Homem acusa hospital de Viana do Castelo de demorar "36 horas" a diagnosticar enfarte

Ricardo Gonçalves afirma que as sequelas sofridas o impedem de trabalhar e lamenta ter "de pedir uma pensão por invalidez aos 48 anos"
Foto: Rui Manuel Fonseca / Arquivo
Um homem de 48 anos apresentou queixa-crime contra a Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM) por, alegadamente, ter esperado "36 horas" no hospital de Viana do Castelo, após ali ter dado entrada com sintomas de enfarte.
O utente foi transferido para Braga e submetido, dada a alegada urgência, a um cateterismo "a sangue frio".
O caso, que remonta a outubro de 2023, foi noticiado pela TVI/CNN, na segunda-feira à noite. E estará a ser investigado pelo Ministério Público (MP) na sequência da queixa-crime apresentada pelo utente Ricardo Gonçalves.
Na reportagem, a vítima relata que os cardiologistas do Hospital de Braga justificaram a intervenção sem anestesia com a "falta de tempo" para tal, por causa da gravidade da situação, dizendo que tinha "sorte" em ainda estar vivo.
Ricardo, engenheiro técnico do ambiente, afirma que "ficou com sequelas para o resto da vida", que o impedem de trabalhar e que terá, por isso, "de pedir uma pensão por invalidez aos 48 anos".
Em causa estará o alegado "tempo perdido" pela vítima, durante "36 horas no Hospital de Viana do Castelo a ser tratado com analgésicos para supostas dores musculares".
Ricardo Gonçalves conta que entrou na urgência daquele hospital, em 18 de outubro de 2023, com "os primeiros sintomas [de enfarte] depois de uma sessão de ginásio". "No final do treino, comecei a ter dores no peito, no braço, no pescoço e no maxilar. E disse à minha mulher: vou ao hospital que isto pode ser um enfarte", recorda à TVI/CNN, indicando que no gabinete de triagem terá relatado o que sentia e informado que suspeitava daquela doença aguda que "também atingira o seu pai aos 49 anos de idade".
Conta que lhe foi dada pulseira amarela, face à possibilidade de se tratarem de "dores musculares decorrentes do esforço físico". E que esse mesmo diagnóstico foi confirmado pela "primeira médica que o atendeu, uma hora e meia depois de chegar à urgência", e que lhe aplicou analgésico como tratamento.
O queixoso afirma que, no decorrer do processo de exames, "duas colheitas de sangue extraviaram-se nos corredores do hospital" e que "a primeira suspeita de enfarte só lhe foi comunicada por outra equipa médica, 24 horas depois, na noite de 19 para 20 de outubro". E que, tendo em conta que "o hospital de Viana não faz cardiologia de intervenção" e "a essa hora Braga também já não aceitava", apenas "na manhã do dia seguinte, 20 de outubro, por volta das 10 horas, uma cardiologista diagnosticou o enfarte, com os resultados de um ecocardiograma na mão".
O utente foi transferido para Braga, o que demorou "três horas, alegadamente devido à falta de profissionais de saúde para o acompanhar na viagem de ambulância". Naquele hospital acabaria então por ser submetido a um "cateterismo a sangue frio".
O "Jornal de Notícias" contactou a ULSAM, o hospital de Braga e a Procuradoria Geral da República, para obter mais esclarecimentos sobre o caso, mas não obteve respostas até ao momento.

