Saída de clínicos obrigou à remarcação de centenas de exames. Há especialidades sem vagas até dezembro. Tempos de espera duplicaram.
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No Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, nos últimos meses, o tempo de espera para consultas aumentou de quatro para oito meses e há especialidades sem vagas até dezembro. A perda de três urologistas e de uma imagiologista e as dificuldades em recrutar novos médicos agravaram os problemas já sentidos há vários anos. O Hospital das Forças Armadas reconhece ao JN que há défice de médicos em algumas especialidades, apesar de abrirem concursos para as especialidades com mais falhas.
Quando João Nogueira tentou marcar uma consulta de urologia para o pai, militar reformado, no Hospital das Forças Armadas disseram-lhe que "não era possível este ano" e teve de recorrer a outra unidade hospitalar.
O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas, António Mota, confirma que tem recebido "queixas diárias de pessoas que não conseguem marcar consulta ou exames". "Antes conseguia-se agendar numa semana. Agora espera-se seis a oito meses. Há listas até dezembro. Quem lá trabalha faz autênticos milagres", diz.
Segundo o que o JN apurou, a maior quebra sentiu-se na urologia, de cinco para dois urologistas, que chegam a atender mais de 40 doentes por dia cada um. Um deles saiu para um hospital privado, outro está numa missão em Moçambique, um faleceu e há ainda um clínico que está de baixa prolongada, que entretanto já foi substituído.
A saída de uma imagiologista, que não quis renovar o contrato, levou à remarcação de 500 exames e consultas e os exames de gastroenterologia têm atrasos de um ano. Há apenas um dermatologista, militar reformado. As especialidades de reumatologia, hematologia e medicina dentária têm esperas de meio ano. Perdas que prejudicam principalmente os militares no ativo, que têm prioridade, "mas não estão a conseguir resposta imediata". "É muito grave porque ficam inoperativos bastante tempo. Um piloto se tem uma dor de dentes tem de ser visto nesse dia porque não pode voar assim", exemplifica António Mota. Isto leva a que "quem está na reserva ou na reforma e os familiares dos militares sejam extraordinariamente penalizados".
Défice de especialistas
O Hospital das Forças Armadas confirma que a especialidade de dermatologia "se encontra desfalcada" e que "existe um défice de especialistas na imagiologia, o que poderá contribuir, pontualmente, para atrasos nas marcações de exames". Adianta ainda que "fruto do prestígio dos urologistas militares, nos últimos anos, vários deles têm deixado as Forças Armadas para prestar serviço noutras unidades hospitalares". "Situações adversas de saúde têm afetado alguns médicos do serviço", admite.
Perdas
"Debandada nas Forças Armadas"
A dificuldade em recrutar novos médicos, devido às condições remuneratórias pouco aliciantes, e o recurso a "médicos tarefeiros", contratados a partir de empresas de trabalho temporário, tem contribuído para a degradação do serviço do Hospital das Forças Armadas. "A debandada nas Forças Armadas é cada vez maior, na primeira oportunidade que têm vão embora. Estamos a perder efetivos e há um excesso de carga de trabalho para os que ficam", lamenta o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas. António Mota explica ainda que os médicos militares que querem sair "têm de pagar indemnizações brutais de centenas de milhares de euros".