Hospital de Leiria abre inquérito a morte de doente de 42 anos, que recebeu pulseira para consulta urgente.
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Um homem de 42 anos morreu no Hospital Distrital de Santo André, em Leiria, depois de ter permanecido mais de seis horas na sala de espera do Serviço de Urgência sem uma resposta. António Manuel B. L. deu entrada naquela unidade hospitalar com sintomas de estar em vias de sofrer um enfarte do miocárdio. A triagem considerou-o um caso urgente, que obrigaria a uma observação médica no espaço máximo de uma hora. A Administração do Hospital de Leiria já abriu um inquérito interno ao ocorrido.
O JN apurou, junto de fonte clínica do hospital, que o doente terá chegado ao hospital na companhia do pai, ao final do dia 26 de maio, uma terça-feira. António Manuel B. L. teria feito um esforço físico mais exigente durante a tarde, ao subir escadas. Não haveria antecedentes clínicos de problemas cardíacos.
Depois de o pai o ter deixado na sala de espera, pelas 20.15 horas, e enquanto não foi chamado pelo serviço de triagem, o homem apresentava sinais de enorme desconforto e suor excessivo. Já pelas 20.44 horas, perante o enfermeiro que triou o seu caso, António Manuel terá referido e apresentado "dor no peito, com sudorese [transpiração excessiva] e hipertensão", adiantou, ao JN, a mesma fonte hospitalar.
Nem um eletrocardiograma
Apesar de as queixas poderem configurar que estaria a enfartar, o enfermeiro atribuiu-lhe uma pulseira amarela - que, no sistema de triagem de Manchester, configura caso urgente com atendimento no espaço máximo de uma hora. Acima dessa cor, há as pulseiras laranja, para casos muitos urgentes (atendimento em 10 minutos), e a vermelha, emergência (observação imediata).
Pelas 0.45 horas, o processo do doente terá sido acedido por um médico interno. Mas não haverá registo de consulta. Também não terá sido pedido um eletrocardiograma, "algo que teria feito uma grande diferença", disse fonte hospitalar. O homem faleceu às três horas da madrugada, após avisar uma enfermeira que não se sentia bem. Foi levado para a sala de reanimação, tendo sucumbido provavelmente com um enfarte - algo que a autópsia poderá confirmar. António não chegou sequer a ser visto por um cardiologista.
Questionado pelo JN, o Hospital de Leiria revelou que "o Conselho de Administração, ao tomar conhecimento da situação, procedeu à abertura de um processo de inquérito para apuramento dos factos, sem prejuízo de lamentar, independentemente das conclusões que se aguardam do sucedido".
Processo
Disciplina em silêncio
O JN questionou o Conselho Disciplinar Regional da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, onde está inscrito o médico que acedeu à ficha de António Manuel B. L. de madrugada, sobre se há alguma queixa contra o referido profissional. Mas fonte oficial daquele órgão não forneceu qualquer esclarecimento. Já a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos desconhecia este caso até ontem.
Inquérito pela Cardiologia
O inquérito interno, ordenado pelo Conselho de Administração, está nas mãos do responsável da Cardiologia, ainda que o doente nunca tenha chegado àquele serviço ao longo das seis horas em que esteve no hospital.