Hospital de Viseu garante pediatria nas noites de junho mas depois disso não é certo
População preocupada e autarca fala numa "vergonha" para o país.
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O Hospital de Viseu conseguiu fechar a escala da urgência pediátrica para o mês de junho e, assim, assegurar o serviço noturno e a maternidade, mas o risco de fechar à noite e aos fins de semana a partir de julho é cada vez mais certo. No final do mês sai mais uma especialista e o concurso para contratação de dois clínicos continua deserto de candidatos.
Fonte do Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV) admitiu esta quinta-feira ao JN que "há dificuldades na realização da escala de pediatria por falta de recursos humanos nos próximos meses", mas assegura que a administração está a fazer "todos os possíveis para encontrar uma solução" que impeça o encerramento.
Luís Silva está prestes a ser pai pela segunda vez e não esconde a "ansiedade" que começa a viver em família com a possibilidade do encerramento do serviço. "Claro que estamos preocupados a partir do momento que não temos alternativa a não ser o privado", revela.
Ana Salgado, com 31 anos, foi mãe do José Maria, pela primeira vez, há oito meses. Tem pediatra privado porque, diz, "tem poder económico para isso", mas pode ter sempre que recorrer ao serviço público.
"Como é que faço? Eu e outras mães? Tenho de ir para Coimbra, com o meu filho e o meu marido. Se for complicado e tiver que ficar lá, o meu marido tem de vir trabalhar e eu fico lá sozinha? A centenas de quilómetros de distância?", questiona-se.
"Isto é desumano. Sou mãe, tenho uma filha de 11 anos e o Serviço Nacional de Saúde não nos está a dar resposta. Manda-nos para Coimbra", lamenta Carolina Coelho.
A confirmar-se o encerramento do serviço, crianças e grávidas correm o risco de serem transportadas para Coimbra, a cerca de 100 quilómetros, e terem de enfrentar "a estrada da morte".
"Coimbra não é de todo uma solução para quem vive em Viseu. O IP3 não é solução. É perigoso. Por isso não temos alternativa neste momento", diz Luís Silva.
João Paulo Coelho é pai de uma menina com um ano e meio. Já recorreu ao serviço de urgência três vezes, duas à noite e uma delas bastante urgente. "Não temos alternativas. Ter de fazer o IP3 à noite, que é a estrada da morte, é esperar que não fique sangue nas mãos dos nossos políticos", avisa.
Já Carolina Coelho diz que esta é mais uma prova de que o país está a regredir 40 anos. "Custa-me pensar que se a minha filha se aleijar, à noite, ou aos fins de semana, eu tenho de fazer 90 quilómetros até Coimbra numa estrada que é considerada das piores do país. Estamos a regredir 40 anos".
O presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, fala numa "vergonha para o país" e pede atuação do Governo, a quem acusa de ser "insensível".
"Mandar uma grávida ou uma criança para Coimbra é uma violência. Deixo o apelo ao ministro da Saúde e ao senhor Primeiro-Ministro para porem cobro a isto. Isto é de facto uma vergonha que diminui o país", assegura Fernando Ruas.
No caso das grávidas e crianças do distrito da Guarda, a solução torna-se ainda mais distante uma vez que o hospital de Viseu é uma referência para a Unidade de Saúde Local em várias especialidades como a urgência obstétrica e pediátrica.