<p>"Era efectiva na Santa Casa da Misericórdia de Lamego e despedi-me para apostar neste projecto. Agora sou posta na rua e sem dinheiro". O lamento é de Joana Costa, enfermeira, confrontada com o encerramento do Hospital Internacional do Algarve em Albufeira.</p>
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O Hospital Internacional do Algarve (HIA), do grupo Trofa Saúde, está aberto há pouco mais de dois meses e a decisão, conhecida ontem, afecta a totalidade dos cerca de 60 funcionários. Os contratos a termo certo (seis meses) terminam no final de Outubro e não vão ser renovados. Os trabalhadores nem sequer vão ter direito a subsídio de desemprego - para isso era preciso que tivessem trabalhado durante um ano - e alguns têm ordenados em atraso. É o caso de Joana Costa.
"Como se não bastasse, mandam-me embora e não me pagam. Não recebo ordenado desde que comecei a trabalhar, a 2 de Agosto". Foi precisamente nesse dia que o HIA abriu as portas.
Tal como a colega, Orlando Monteiro, enfermeiro, vai ter de regressar a casa, ao Porto. "Estava aqui a recibos verdes e a pagar casa".
O empenho no projecto começou quatro meses antes, em Maio, altura em que assinaram os contratos. "Tivemos formação não remunerada, parte dela fora da área de residência da maioria das pessoas, designadamente na Trofa, em Matosinhos e em Lisboa", disse, ao JN, Amélia Luz, recepcionista. Locais onde existem unidades do Grupo Trofa Saúde, a que pertence o HIA.
Amélia Luz garante ter-lhes sido prometido "um contrato de um ano com a possibilidade de passar todos os colaboradores contratados a efectivos do grupo". Situação que não se verificou. Para a recepcionista, que estava desempregada, mas recebia subsídio - algo que agora não vai acontecer - a não renovação dos contratos "é, na prática, um despedimento colectivo, mas disfarçado de outro nome, porque afecta todos".
Ao que o JN apurou, foi contratada uma empresa de segurança externa a quem os profissionais do HIA que asseguravam esse serviço tiveram de entregar ontem as várias chaves do edifício. Situação que dizem ser reveladora de "uma grande falta de respeito e de consideração".
Às perguntas sobre as razões do encerramento e da cessação dos contratos, a administração respondeu apenas que está "em reorganização de processos de gestão", o que "implica o fecho temporário, com previsão de alguns meses, desta Unidade Hospitalar".
Com cinco pisos implementados numa área de mais de 4500 metros quadrados, o HIA assume-se, no sítio da Internet, como "uma unidade de terceira geração" com três salas operatórias, duas de partos, trinta camas para internamento, unidades de Imagiologia, Pediatria e ainda consultas externas e um serviço de urgência a funcionar 24 horas por dia. Mas na verdade apenas estas duas últimas funcionavam.
O HIA esteve aberto "com três pisos com obras por acabar", acusam os funcionários, e o tecto de um deles "ruiu com a chuva", diz a enfermeira Joana Costa.