É a segunda unidade pública do Norte a realizar este tipo de operação. Consulta multidisciplinar começa a funcionar em setembro.
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Rui Freitas nasceu há exato meio século, num corpo de mulher em que nunca se reconheceu, e aguarda há vários anos pela cirurgia genital. É o passo que lhe falta para ver o processo de mudança de sexo concluído, e poderá dá-lo, em breve, no Hospital de Santo António, no Porto, que a partir de setembro será a segunda unidade pública do Norte, depois do São João, em 2016, a realizar cirurgias transgénero, graças à criação de consulta multidisciplinar na área.
É uma "nova resposta que congrega um conjunto de dez especialidades e que está enquadrada no âmbito da estratégia para a saúde das pessoas trans" lançada pelo Governo em 2019, disse ontem a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, durante uma visita, com o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, à recém-criada unidade.
O novo serviço "materializa uma resposta que era muito necessária e especializada na região Norte", sublinhou a governante, elogiando a "equipa extraordinária" que, em tempo de pandemia, "avançou e deu este passo". Rosa Monteiro lembrou ainda que esta "era uma reivindicação de organizações da sociedade civil, das pessoas LGBTI e, especialmente, das pessoas trans".
Para Rui Freitas e para Pedro (nome fictício, por o utente ter preferido o anonimato), a criação deste centro médico-cirúrgico transgénero no Norte - o Centro Hospitalar de Coimbra é a única unidade pública onde são realizadas cirurgias - "é uma luz ao fundo do túnel". Ambos já realizaram, no Porto, a mastectomia, além de outras intervenções, mas "falta a parte final", diz Pedro, que tem 34 anos e começou o processo aos 21. "Em Coimbra, acho que tinha cento e tal pessoas à minha frente. Não tinham resposta", recorda.
Agora, "vai andar mais rápido, e uma pessoa escusa de ir para tão longe", aplaude Rui, para quem o corpo "sempre esteve mal" e "errado". Na área de Psiquiatria, chegou a ser seguido no Hospital Magalhães Lemos, mas todas as especialidades envolvidas no processo de mudança de sexo ficam, a partir daqui, centralizadas na nova unidade funcional de Consulta Multidisciplinar de Medicina Transgénero do Santo António.
"A grande vantagem desta consulta é termos uma equipa fixa, com a qual podermos discutir os casos clínicos e avaliar os doentes num todo", explica a médica responsável pela unidade, Isabel Palma, adiantando que o objetivo é "começar com as cirurgias no início de setembro".
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Dez especialidades
A consulta de medicina transgénero conta com dez especialidades e cerca de 20 profissionais envolvidos que, devido ao grau de especialização necessário, estão em contacto com os colegas de Coimbra, a fim de recolher informação e trocar experiências.
Lista de espera
Já existe uma lista de espera de 30 pessoas para a cirurgia transgénero no Hospital Santo António, aponta a responsável da consulta.