Polémica que dividiu freguesia de Lavradas por causa de duas soluções de reconstrução, abrandou. Câmara garante que aprovação final de projeto está para breve.
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José Sá Gomes tem 90 anos e é o morador mais próximo da igreja que, há cinco anos, na madrugada de 18 de dezembro, foi destruída por um incêndio provocado por um curto-circuito em Lavradas, Ponte da Barca.
Viu arder o templo onde foi batizado, casou, batizou os seus cinco filhos e assistiu ao funeral da mulher. Hoje, a esperança de o ver reconstruído, abrandou, assim como a polémica que incendiou a freguesia após o sucedido.
Uma onda de solidariedade, que se estendeu a paróquias vizinhas e a comunidades de emigrantes, angariou cerca de 400 mil euros para a reconstrução, mas a obra ficou refém da divisão entre dois projetos: recuperar a velha igreja ou construir uma nova.
Este ano, o bispo da Diocese de Viana do Castelo, D. João Lavrador, anunciou que a obra avançaria antes de fim de 2022 e, em setembro, reforçou que esta só está pendente da Câmara de Ponte da Barca.
Ao Jornal de Notícias, o autarca Augusto Marinho declarou que o projeto de arquitetura está em vias de ser concluído, depois de ter passado por "dois indeferimentos técnicos" desde 2019, com base em pareceres de entidades, nomeadamente da Direção Regional de Cultura do Norte.
Pareceres
"Aguardamos neste momento a entrega das especialidades. É uma coisa simples. Depois, será emitida a licença e rapidamente haverá condições para a Fábrica da Igreja levantar o alvará e executar a obra", afirmou, referindo: "Foi uma tragédia o que aconteceu e da parte da Câmara sempre houve vontade em colaborar. "
"Nós queríamos a igreja, mas olhe eu agora já estou como diz o outro: venha uma", comenta Manuel Cerqueira do alto do seu trator, parado junto à ruína do templo, onde restam ainda as paredes, dois sinos e quatro altifalantes intactos. Ao lado da torre sineira, os ponteiros do relógio semidestruído pelo fogo, ainda indicam 3.10 horas (o alerta para o incêndio foi perto das 5).
Manuel e a mulher Maria do Carmo, que pararam o trator para conversar com José Gomes, vizinho da igreja conhecido por "Zé da Carreira", lembram que "o que encravou tudo [no processo de reconstrução] foi o facto de "muitos quererem uma igreja nova, outros a velha".
José recorda a madrugada nas vésperas do Natal de 2017, em que acordou "à volta das quatro da manhã com os estouros do telhado da igreja a ir pelo ar". Conta que "deu uns bons euros" para ajudar à reconstrução, mas que "agora o povo já está desanimado", quanto à concretização da obra.
400 mil euros
A angariação de apoios para a obra fez-se nos meses seguintes ao incêndio, após um apelo feito pelo bispo da altura, D. Anacleto Oliveira, que faleceu em 2020, num acidente de viação. Os donativos atingiam os 400 mil euros.
Após o incêndio, um arquiteto natural de Lavradas, Rafael Freitas, ofereceu-se para ajudar a custo zero e desenhou três propostas: a reconstrução simples da igreja (375 mil euros), a obra com uma ampliação (525 mil) a construção de uma nova, demolindo a casa paroquial ao lado, convertendo as ruínas da velha em espaço de acolhimento (600 mil euros).