A Fundação Inatel inaugura na terça-feira museu e biblioteca onde mostra costumes em Portugal e nas ex-colónias, através da propaganda ao Estado Novo. Um rol de histórias onde se mostra como a oposição conseguiu fazer gorar os planos da ditadura de Salazar.
Corpo do artigo
Durante o regime de Salazar, foram criados centros de alegria no trabalho e controladas as casas do povo, através da organização de atividades culturais e artísticas de propaganda ao Estado Novo. Mas tal não impediu que a oposição se infiltrasse nestes locais para promover atividades subversivas.
Esta é uma parte da História de Portugal que será contada no Museu e na Biblioteca da Fundação Inatel, em Évora. A inauguração está marcada para esta terça-feira, no Palácio do Barrocal, no ano em que a instituição celebra 88 anos.
Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, explica ao JN que a criação, em 1935, da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, hoje Fundação Inatel, pretendia estabelecer "relações profundas" com casas do povo, associações, associações de música, sociedades operárias e musicais, orfeões, ateneus, centros culturais e desportivos e centros de alegria nas fábricas, nos anos 40, 50 e 60 do século XX. "Muitas destas associações foram controladas por estas vias, para evitar atividades subversivas e marxistas."
Oposição começou a controlar associações
Só que os planos de António Ferro, responsável pela propaganda do Estado, não correram como tinha previsto, pois a oposição ao regime começou a controlar essas organizações.
"Os sindicatos de têxteis e do vestuário e o sindicato dos bancários nasceram dentro do centro de alegria no trabalho", exemplifica Madelino. "E as casas do povo que tinham rancho, desporto, teatro e música começaram a ter espetáculos de José Afonso", acrescenta. "As grandes manifestações pelas oito horas de trabalho por dia na agricultura também utilizaram esta estrutura nos anos 60."
O presidente da Fundação Inatel refere que o Museu e a Biblioteca do Inatel permitirão, assim, "ficar a conhecer os movimentos sociopolíticos e tudo o que se passou no mundo do trabalho em Portugal naquela altura, para perceber as tensões que existiam".
As 65 mil obras disponíveis na biblioteca incluem monografias e periódicos, nas áreas de etnologia, sociologia, etnografia e antropologia, sobre os costumes em Portugal e nas ex-colónias. O cinema itinerante levado às comunidades rurais também estará em destaque, com documentários sobre artes, tradições, danças, locais, desporto e propaganda ao regime.