A emblemática escadaria dos Passadiços do Paiva, na freguesia de Canelas, foi completamente consumida pelas chamas que destruíram uma parte significativa desta estrutura em madeira, autêntico ex-líbris de Arouca.
Corpo do artigo
Já quase nada resta da escadaria dos Passadiços, junto à “Garganta do Paiva”, na zona de “fronteira”, entre as freguesias de Canelas e Alvarenga. A outrora imponente estrutura, autêntico desafio, até para os visitantes mais determinados, desapareceu, dando lugar a pequenos pedaços de madeira negra, consumida pelas chamas. Terão ardido entre 1,5 e dois quilómetros de passadiço.
O cenário desolador não se fica por aqui. Os acessos entre Canelas e Alvarenga transformaram-se num dramático cenário com o verde frondoso a dar lugar a um cinzento predominante com arvoredo queimado a que se juntam cabos e postes calcinados.
“Isto não vai ser bom para os negócios. Os passadiços são a nossa principal atração turística e atrai muita clientela”, afirmava, ao JN, o proprietário do restaurante “Décio”, em Alvarenga.
“Vai demorar a repor tudo conforme estava”, vaticina, ao mesmo tempo que considera “muito triste ver tudo queimado”, afirmou.
Décio Vieira estava sem dormir, porque foi também diretamente afetado com as chamas que lhe consumiram vários hectares de mato, sua propriedade. “Andei toda a noite a tentar combater as chamas, nem fui à cama. Tenho um prejuízo grande”, afirmou.
Limpeza de terrenos ajudou em Telhe
Mas o incêndio rural que teve início ao final da manhã de 17 de setembro, no concelho vizinho de Castro Daire e que chegou ao concelho de Arouca, fez temer o pior. As chamas estiveram perto das habitações e bens das populações de Telhe, Covelo de Paivô, Meitriz, Regoufe, Silveiras, Vila Galega, Vila Nova, Santo António, Travessa, Várzeas, Vilarinho, Vila Cova e Serabigões (freguesias de Alvarenga, Covêlo de Paivó/Janarde e Canelas/Espiunca).
“Foi um susto muito grande, mas conseguimos livrar as casas todas das chamas”, afirmou Alberto Martins, um dos cerca de 60 habitantes de Telhe, onde se sentiu mais de perto o aproximar das chamas.
Afirma que, para além da intervenção dos bombeiros e da população “foi importante termos os terrenos limpos” junto à aldeia evitando, desta forma, que as chamas conseguissem deflagrar junto aos campos e casas.
“Faz lembrar os incêndios de 2005 e 2016”, afirmou, por seu lado, Maria da Luz Gomes.
Debruçada sobre o gradeamento onde a população se juntou, olhava apreensiva para as chamas que ainda lavraram numa das encostas.
“Agora estamos mais descansados”, garantia perante a diminuição da intensidade do vento e a presença de um grupo de bombeiros de São Joao da Madeira que ali se mantinham em alerta.
“Só de os vermos aqui já é um alívio muito grande”, explicava outro morador que pediu anonimato.
Também na freguesia de Canelas se viveram momentos de grande apreensão, mas tudo não passou de “um grande susto”.
“As chamas começaram a descer [a encosta] durante a noite e foi assustador. Mas o vento ficou a nosso favor e as coisas foram abrandando”, recordou Ricardo Jesus.
O morador diz que “ainda estamos um pouco preocupados, porque ainda há muito para arder”. Contudo, “a presença dos bombeiros deixa-nos mais tranquilos”.
A presença dos bombeiros tranquilizou a população das diferentes freguesias, mas o disposto que chegou a ter pouco mais de 100 homens deixou a presidente da autarquia que reiterou, ao longo de todo o dia, a presença de mais meios, incluindo aéreos que acabariam por nunca chegar.
“Os meios que temos atualmente não resolvem o problema do combatem ao incêndio desta dimensão. Precisamos de mais equipas e estávamos a contar com meios aéreos que não vieram”, afirmou, ao JN, a presidente da Câmara de Arouca, Margarida Belém.