Olhava-se e tornava-se a olhar e, no meio de tanta coisa carbonizada, ninguém entendia como um carro desligado começara a arder, ontem, deixando sem tecto uma família de imigrantes ucranianos residente em Santo Tirso.
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"O fogo iniciou-se na viatura [Volkswagen de 1995] e alastrou para a habitação", disse, ao JN, Firmino Neto, segundo comandante dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso. "Quando chegámos, o carro já estava todo tomado", descreveu, explicando que a casa "não tem, neste momento, condições de habitabilidade".
"E agora?", desesperava-se a dona da casa, sabendo que a resposta não viria de lado algum. Mas veio, pronta, do namorado da filha: "Agora, é andar para a frente". A Câmara de Santo Tirso comprometeu-se a dar corpo à determinação: providenciou alojamento provisório (oito dias) numa residencial e garantiu que uma habitação social é possível.
Sem conseguir articular palavra, a mulher desesperava-se em lágrimas, as mãos levadas à cara e deixadas cair vezes sem conta, os dedos de novo enterrados no curto cabelo loiro: o anexo onde o fogo despontou, a sala e a cozinha estavam negros; o primeiro andar sem parte do tecto, constatou a ucraniana quando chegou a casa, perto das 14 horas. Foram os dois filhos mais velhos que atenuaram o choque da mãe e receberam bombeiros e GNR, estes alertados, cerca das 11.45 horas, para um incêndio numa habitação à face da EN 105, na freguesia de Agrela. Na casa viviam cinco pessoas - um casal e três filhos de seis, 18 e 22 anos. Quando as chamas deflagraram todos estavam ausentes.
"A casa ficou destruída. O que dá para aproveitar é a parte de cima", observava Kseniya, a mais velha dos três irmãos. "O telhado começou a arder e, como é de madeira, tiveram [os bombeiros] de tirar", aponta. "Da cozinha, acho que foi tudo. A mobília da sala queimou. Uma pessoa pensa sempre que não nos acontece a nós…", desabafava a rapariga. O registo das baixas lá se ia fazendo, de feições pesarosas: em princípio, o computador ter-se-á safado, previa-se. Nada que, no entanto, espante da memória de Kseniya as chamas a engolirem parte da casa onde habita há sete anos: "Entrei em pânico. É assustador". "Não percebo como aconteceu isto. O carro estava em bom estado", garantia o irmão, Serhyy.
Foi Dina Pereira, a senhoria, quem primeiro viu as labaredas. "Dei conta por causa do cheiro dos fios queimados. No princípio, era só no carro, um bocadinho", contou. "Foi tudo muito rápido", acrescentaria o marido, Adriano Moreira. As causas do fogo estão por apurar, mas os bombeiros apontam para um curto-circuito.