Em Abiúl, fogo consumiu habitações e terrenos. Muitos fazem ainda contas ao que perderam, especialmente os que não tinham seguro. No espaço de três dias arderam três habitações, 52 barracões e palheiros, e 1086 hectares, 278 dos quais área agrícola, naquela freguesia de Pombal. A estimativa, feita pelo Município, aponta para 120 proprietários afetados pelos incêndios de julho.
Corpo do artigo
Entre os proprietários que sofreram mais prejuízos, destaca-se uma queijaria artesanal, em Lagoa das Ceiras. Mas as chamas dizimaram ainda pinhais e vinhas, medronheiros e oliveiras de uma propriedade agrícola, em Rebolo.
Silvina Marques, 69 anos, tem a tristeza estampada no rosto. Proprietária da Queijaria Camponês de Sicó, onde se produz queijo Rabaçal, acredita que se a aldeia não tivesse sido evacuada tinham conseguido evitar que as chamas chegassem ao edifício. "Liguei cinco ou seis vezes para os bombeiros e avisei-os que tinha aqui um tanque com gás. Se explodisse, não sobrava nada."
Se não fosse o meu filho a apagar as chamas com o extintor, não ficava aqui nada
Quando voltaram, três horas depois, as galinhas e os patos estavam mortos, e parte da fábrica estava a arder. "Se não fosse o meu filho a apagar as chamas com o extintor, não ficava aqui nada, porque os bombeiros só vieram acabar de apagar às 11 horas da noite", assegura Silvina. "Se a gente cá tivesse ficado, desviava o fogo da porta da queijaria, com uma mangueira de um lado e um balde do outro, porque temos um furo." Sem seguro, ainda não fez contas ao prejuízo.
Maria Marques, 69 anos, conta que foram três dias de angústia na aldeia de Rebolo, com o fogo a rondar toda a propriedade, onde têm videiras, medronhos e oliveiras, para produzir vinho, aguardente e azeite. Embora desconheça o montante dos estragos, calcula que terão ardido seis ou sete hectares de terrenos e mais de duas mil árvores "carregadinhas" de medronhos. "Só me dá vontade de chorar."
Bombeiros tinham tantas solicitações que era uma coisa louca
Apesar de terem sido aconselhados a abandonar a localidade, recusaram-se. "Lembrei-me de Pedrógão Grande e do que aconteceu às pessoas que saíram de casa", justifica Maria, em alusão aos fogos de 2017. Com a ajuda de amigos e de familiares, impediram que as chamas chegassem à habitação, embora tenham invadido a encosta, onde cultivam vinha, e destruído parte de um barracão com lenha e máquinas
"Os bombeiros só ajudaram no primeiro e no terceiro dias. Tinham tantas solicitações que era uma coisa louca", justifica.