Estado de emergência encerra aparelho produtivo por mais duas semanas. Fábricas de bens não essenciais continuam fechadas. Empresários temem pela sucessão de falências.
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A abertura de um corredor para as empresas escoarem a produção e adquirirem matéria-prima, assim como a permissão para os restaurantes trabalharem em regime de "take away", são algumas das alterações incluídas na cerca sanitária a Ovar e que o Governo vai prolongar por mais 15 dias. Os empresários temem falências, porque as empresas de bens não essenciais vão continuar fechadas.
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O cordão sanitário montado ao município, a 18 de março, na sequência da declaração do estado de calamidade, prolonga-se por mais duas semanas. As novas medidas do estado de emergência entraram em funcionamento à meia-noite. O presidente da Câmara, Salvador Malheiro, foi ouvido pelo Governo, antes de ser conhecida a decisão oficial. "Defendi junto do Governo a permissão de um corredor de mercadorias para as nossas indústrias, que lhes possibilite a redução dos prejuízos. E também a possibilidade de os 'take away' poderem trabalhar", avançou o autarca, através da conta pessoal no Facebook.
Ao JN, Malheiro acrescentou: "Caso se mantenham fechadas, as empresas deviam poder expedir o produto final em stock. Mas a decisão é do Governo".
Os empresários consideram que estas medidas só fazem sentido se for alargada a possibilidade de todas as empresas poderem laborar.
"Escoar mercadorias e receber matéria-prima pode ser uma boa medida, mas não vai resolver o problema de fundo. As indústrias de bens não essenciais continuam a não poder laborar", observou o administrador da Lusotufo, Pedro Rola.
O mesmo dirigente desta empresa de pavimentos afirma que o cerco "está a estrangular o tecido empresarial". "Estamos de mãos e de pernas atadas, numa situação terrível", acrescente Pedro Rolo.
João Sá, da Exporplás, empresa de exportação de plásticos, tem a mesma opinião: "Estas exceções não vão resolver absolutamente nada. Se as empresas continuarem paradas, não têm mais nada para escoar. O cerco tem tido um efeito catastrófico. Não está a haver um equilíbrio entre a defesa da saúde e a defesa da economia e das empresas".
Também os empresários da restauração mostram reservas sobre o funcionamento do "take away". "Não compensa abrir nesse regime, não dá para pagar as despesas. Não há clientela suficiente, porque está tudo em casa e os clientes de outros concelhos não podem aqui vir. E não faz sentido colocar em risco a saúde de funcionários e família pela oportunidade de negócio que não é rentável", diz António José do restaurante "Assim & Assado".
Para Amadeu Amaro, do Restaurante Aurora, há mais dúvidas do que certezas. "Vou tentar adaptar-me, mas será que vale a pena?", questiona.
A saber
Enviar mercadoria para o exterior
As empresas de Ovar chegaram a ter em armazém cerca de 450 milhões de euros em mercadorias. Parte foi escoada em três dias, numa autorização excecional da Câmara, que, agora, quer ver a medida alargada.
Restaurantes com "take away"
Continua a não ser permitido o serviço à mesa nos restaurantes do concelho de Ovar. Podem, no entanto, adaptar o serviço ao regime de encomenda prévia e entrega ao cliente ao domicílio.
Comboio não pára nas estações
Desde que foi decretado o cerco sanitário que os comboios não param nas estações e apeadeiros de Ovar. Este era um meio de entrada e saída de muitas pessoas, também dos concelhos vizinhos.
Câmara emite autorizações
A Câmara tem vindo a passar autorizações para que pessoas e bens possam circular para fora e para dentro do concelho. Os pedidos são previamente analisados e só depois emitidos os documentos para a passagem pela cerca sanitária.
Serviços abertos
Mantêm-se abertas as padarias, os supermercados na área de abastecimento alimentar, as farmácias, os bancos e os postos de abastecimento.