<p>É com revolta que Teresa Machado lembra a madrugada de domingo, quando o INEM se recusou a transportar o seu pai, doente oncológico, para o IPO. A equipa de emergência terá alegado que "cumpria ordens".</p>
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Foi por volta das quatro da manhã do passado domingo que a família de Manuel Machado, residente em Águas Santas (Maia), se viu forçada a recorrer à ajuda do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). O homem, de 60 anos, a quem, há um ano e meio, foi diagnosticado um tumor no intestino, "estava numa aflição imensa, aos gritos, desesperado com tantas dores", recordou, ao JN, a filha Teresa Machado.
Devido ao facto do pai se encontrar acamado e "dada a aflição", Teresa e o irmão, José Manuel, ligaram para o 112. "Durante a chamada expliquei que o meu pai era doente oncológico terminal, que estava com uma crise aguda e que precisava de ser transportado para o Instituto Português de Oncologia (IPO), onde já estava uma equipa médica à sua espera", contou Teresa, acrescentando: "Foi quando do outro lado me responderam que já vinha uma ambulância a caminho".
Nem dez minutos terá demorado a chegar a viatura de emergência médica ao número 155 da Rua da Capela. E qual não foi o espanto dos filhos de Manuel Machado quando viram os elementos do INEM a transportarem o doente numa cadeira de rodas até à ambulância. "A minha mãe bem perguntou se não tinham uma maca, porque, dado que o meu pai estava acamado, seria muito mais fácil a sua estabilização. Contudo, foi assim mesmo transportado para dentro da viatura", sublinhou a filha.
"Os problemas" terão começado quando a equipa médica perguntou para onde seria transportado Manuel. À resposta da filha do doente que a deslocação seria para o IPO, "tal, como aliás, tinha dito por telefone", os elementos do INEM terão informado "que só poderia levá-lo para o Hospital de S. João".
Depois de meia hora "a discutir-se" para onde levar Manuel, com o doente dentro da ambulância "numa aflição" e dada a atitude intransigente da equipa do INEM, restou ao doente ser transportado pelo filho, com o banco da frente do carro rebatido, e o irmão a segurá-lo no banco de trás. Não sem antes a família ter assinado um documento "como o INEM veio ao local socorrer o meu pai", explicou Teresa Machado, enquanto critica a "desumanidade com que uma equipa médica, que assiste casos de emergência, lidou com o caso".
"Por mais que queira não consigo esquecer toda a situação vivida na madrugada de domingo, com muito frio, onde o meu pai muito debilitado gritava com dores. A minha tia bem lhes disse: 'Acudam-nos que o meu cunhado ainda morre aqui!'. Mas nada fizeram. Para que serve ligar para o INEM se não é para ajudar em casos como este?", concluiu, revoltada Teresa Machado.
IPO não faz parte de rede de urgência
Contactado pelo JN, o INEM justificou, ontem, por escrito que "o IPO não faz parte da rede nacional de urgências e, como tal, não pode levar nenhum doente para instituições que não estejam contempladas no decreto-lei que organiza a rede". "Na base desta rede não está a presunção de que um doente está em tratamento num determinado local, clínica ou IPO, mas sim a efectiva emergência do caso, que pode ser sempre tratado em qualquer Unidade Hospitalar", alega.