Inquilina de prédio permutado pela Igreja: "Não vou viver para debaixo da ponte com o meu filho"
Inquilina de prédio permutado pela diocese em setembro de 2024 está a ser pressionada para deixar a habitação pelos novos proprietários.
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Nascida e criada na Rua Cidral de Baixo, onde a avó, que a educou, foi arrendatária por mais de 60 anos, Vânia Santos perdeu o chão quando o novo proprietário do prédio que fora doado à Igreja lhe comunicou que teria de deixar a casa onde sempre viveu. Soube, em outubro de 2024, que a diocese do Porto trocara, havia cerca de um mês, o imóvel no Centro Histórico do Porto por um T1 avaliado em 200 mil euros e a construir no âmbito da ampliação de uma casa na Rua da Boavista.
"Fiquei sem chão quando soube que o prédio tinha sido permutado, e pensei: o que vou fazer se tiver que sair? Não vou para a rua, viver para debaixo da ponte com o meu filho, que está a estudar. É horrível, porque uma pessoa fica sem nada", confessa Vânia, que, em 2021, alheia às intenções da diocese de alienar o imóvel, pediu um empréstimo de 25 mil euros para fazer obras na habitação.
Ainda a pagar obras
Ainda a pagar o empréstimo, foi confrontada por um dos sócios da empresa que passou a ser proprietária do prédio, que lhe perguntou "se podia sair da casa em janeiro de 2026". Conta que a avó, que morreu no final de 2016, tinha um contrato de arrendamento verbal, como era ainda usual fazer-se à data em que se tornou inquilina, e, apesar de ter os recibos emitidos pela Igreja, foi invocado que estaria a habitar a casa de forma indevida.
"A diocese disse ao novo proprietário que eu tinha ocupado indevidamente o prédio, porque recusei assinar um contrato por três anos que queriam que assinasse depois de ter feito obras de tanto valor. Mas quando a minha avó faleceu, eu quis fazer contrato [escrito] e disseram que não faziam porque o valor da renda era muito baixo. A diocese garantiu que eu estava na mesma situação da minha avó, e que não me preocupasse. E assim confiei, e sempre tratei e cuidei do prédio que era património deles, sem exigir qualquer valor por isso", conta Vânia Santos ao JN, afirmando que "a ninguém passava pela cabeça que [a Igreja] fizesse um negócio desses".
Vânia continuou a pagar a renda, mas "entre 2027 e 2022 não passaram recibos". Relata que começaram a ser passados a partir desse ano, tendo sido emitidos todos relativos àquele período. Foi também "em 2022 que deram conhecimento às Finanças de um contrato de arrendamento, mas sem que eu tenha assinado qualquer contrato", estranha a inquilina. A diocese não comenta.