Traçado da nova linha ferroviária de alta velocidade, apontado pela IP como preferencial, é contestado por município. Poderão estar em causa também mais de mil postos de trabalho.
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A Câmara de Santa Maria da Feira pronunciou-se, esta sexta-feira, na reunião do executivo, contra o traçado considerado preferencial pela Infraestruturas de Portugal (IP) para a nova linha ferroviária de alta velocidade a ser construída entre Porto e Lisboa.
O Executivo feirense, que votou a decisão por unanimidade, diz que, a concretizar-se a escolha do traçado A, previsto no estudo de impacte ambiental, ficam em causa investimentos de cem milhões de euros e mais de mil postos de trabalho qualificado.
De acordo com o estudo da IP, no troço Porto-Aveiro são apresentadas as soluções de traçado A e B, baseadas em dois "corredores alternativos com início comum em Oiã", no concelho de Oliveira do Bairro e "final na agora prevista estação AV [alta velocidade] de Vila Nova de Gaia, localizada em Santo Ovídio". O troço do vulgarmente conhecido por TGV, que deverá ligar Vigo a Lisboa, custará 1,65 mil milhões de euros, dos quais 500 milhões financiados por fundos europeus.
No que respeita ao concelho da Feira, o traçado A preconiza um "corredor" mais próximo da autoestrada A1, em detrimento da opção B em que a nova linha se desenvolve não muito longe da autoestrada A29.
Ao JN, o presidente do Município, Emídio Sousa, diz "não compreender" que o estudo de impacte ambiental aponte o traçado A como mais vantajoso para a implementação desta linha, quando "o traçado B [alternativo] tem indicadores mais favoráveis".
"O traçado A vai prejudicar o desenvolvimento do nosso concelho, deitar fora investimento estrangeiro superior a cem milhões de euros e inviabilizar mais de mil postos de trabalho qualificados", referiu . O autarca explica que, a ser escolhido o traçado A, a zona poente do Europarque, onde está instalado o parque industrial Lusopark, "vai ser seriamente afetada".
"Trata-se de um local com um tremendo potencial para toda a região que vai ficar em causa". "Somos favoráveis e percebemos a necessidade de se construir ferrovia, mas temos de defender a melhor solução para os nossos territórios", justifica.
Alternativa intermédia
Emídio Sousa prefere o traçado B - que fica mais próximo da A29 - mas recorda que foi apresentada, juntamente com o município de Ovar, uma alternativa intermédia de traçado "que é a opção que melhor defende os interesses dos dois municípios, mas que - acusa - nem sequer foi tida em consideração neste estudo de impacte ambiental". "Santa Maria Feira não é um município qualquer. Está entre os dez concelhos mais exportadores de Portugal e onde vivem 140 mil habitantes", lembrou o presidente, considerando que "a posição assumida não pode ser ignorada".
"A possível aprovação do traçado A representa um forte golpe para o nosso desenvolvimento", remata.
Ovar contra "B"
A Câmara de Ovar, pela voz do vereador da Gestão Urbanística e Planeamento Urbano, António Bebiano, frisa estar "do lado da Feira no sentido de se encontrar uma proposta de consenso e que minimize os impactos" que, reconhece, serem mais sentidos no concelho feirense. Contudo, refere que a proposta que contempla o traçado (B) próximo da A29, "está fora de hipótese". "Partia-nos o concelho ao meio", considera.
Debate no Europarque no dia 13
A Assembleia Municipal da Feira marcou, para o próximo dia 13, pelas 20.30 horas, uma sessão extraordinária, a decorrer no Europarque. Tem como ponto único o debate sobre o estudo de impacte ambiental que está a decorrer sobre a linha de alta velocidade. A população da freguesia de Espargo, abrangida pelo traçado defendido pela IP, prepara-se para marcar presença em grande número e, desta forma, mostrar a sua contestação a esta mesmo opção.