Os satélites portugueses PoSat-2 e Prometheus-1 foram lançados esta terça-feira pelo Falcon 9, da SpaceX.
Corpo do artigo
Esta terça-feira, ao final da tarde, no átrio da Universidade do Minho, foi montado um ecrã gigante para transmitir, em direto, o lançamento do foguetão Falcon 9 da SpaceX, a partir do porto espacial Vanderberg, na Califórnia, nos Estados Unidos da América. A bordo, além do projeto académico Prometheus-1, seguiu também o PoSAT 2, um satélite comercial, da responsabilidade da LusoSpace, que fará parte de uma constelação de 12, dedicados à monitorização do oceano. A viagem até ao espaço foi um sucesso, mas o Prometheus-1 só será libertado daqui a sete dias e o PoSAT só deve começar a comunicar em abril.
O lançamento aconteceu às 19 horas e nove minutos, com 11 minutos de atraso relativamente à hora prevista. Passados poucos segundos, os números no ecrã gigante indicavam que viajava a uma velocidade próxima dos dois mil quilómetros por hora e estava a 11 mil metros. Pouco depois, passados dois minutos sobre o lançamento, a velocidade já rondava os cinco mil quilómetros por hora. “Mesmo assim vai levar 68 minutos até chegar ao ponto pretendido”, explicou Alexandre Ferreira da Silva, investigador do Centro de Sistemas Microeletromecânicos da Universidade do Minho e responsável pelo projeto.
O Prometheus-1 vai orbitar a Terra a cerca de 500 quilómetros de altitude. “Contudo, ao chegar ao espaço, não vai ser imediatamente libertado em órbita. Para já, vai ficar num veículo de transferência orbital que só começará a fazer a libertação dentro de sete dias”, referiu o professor. “Trata-se de uma medida de segurança da SpaceX, uma vez que há muitos satélites a irem para o espaço ao mesmo tempo”, acrescentou.
Cinco minutos depois de ser libertado, o Prometheus-1, um objeto do tamanho de um Cubo Mágico (com cinco centímetros de lado), vai abrir as antenas e fica à escuta. “Nessa altura temos de o começar a procurar”, apontou Pedro Andrade, finalista do mestrado em Engenharia Aeronáutica e um dos alunos mais diretamente ligado ao projeto. Pelo facto de estar numa órbita baixa o Prometheus-1 só está comunicável durante 15 minutos diários, é dessa janela que os investigadores dispõem para o encontrar.
O módulo terrestre será no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. É lá que, com uma potente antena de rádio amador, os investigadores vão rastrear o céu à procura do Prometheus-1, para lhe enviarem a ordem para começar a funcionar. “Por uma questão de segurança o equipamento não arranca sozinho”, esclareceu o professor Alexandre Ferreira da Silva. “O satélite não tem GPS porque neste tipo PocketCube não é permitido, além de que é muito pequeno para acomodar esse equipamento”, acrescentou Pedro Andrade.
Em teoria, qualquer pessoa com um equipamento de radioamador pode captar as transmissões do Prometheus-1, “que se assemelham a uma série de bips”, refere o professor. “Esses sinais são zeros e uns e para os decodificar é preciso ter um computador com o protocolo adequado”, clarificou Pedro Andrade.
O PoSAT-2, da LusoSpace, e o Prometheus-1, da UMinho, são o quarto e o quinto satélites portugueses a serem enviados para o espaço, depois dos nanossatélites ISTSat-1 e Aeros MH-1, em 2024, e do pioneiro PoSAT-1, em 1993.
Ensinar tecnologias ligadas ao espaço e monitorizar oceanos
O Prometheus-1 “vai servir para levar o espaço para dentro da sala de aula”, afirmou Alexandre Ferreira da Silva. Os alunos vão poder mexer em equipamentos em tudo iguais ao que estará em órbita, destaca o professor. Trata-se do segundo nanossatélite a ser construído por uma instituição universitária portuguesa, depois do ISTSat-1, do Instituto Superior Técnico (IST). Já o PoSAT-2 é o primeiro de uma constelação de 12 microssatélites para monitorização do tráfego marítimo e foi totalmente construído nas instalações da LusoSpace, em Lisboa.
O PoSAT-2 custou, aproximadamente, um milhão de euros e vai permitir receber dados sobre a localização de navios e criar um sistema de comunicações que, no meio do oceano, facilitará a receção pelas embarcações de alertas de mau tempo ou de possíveis ameaças de piratas e o envio de mensagens de socorro. As primeiras comunicações do satélite da LusoSpace devem começar a chegar em abril.
Roubar o fogo aos deuses mas com responsabilidade
Presente a assistir ao lançamento, o reitor da Universidade do Minho, Rui Vieira de Castro, lembrou a cena inicial de “2001 - Odisseia no Espaço”, “em que um grupo de macacos lutava por recursos e poder”. O reitor recordou o momento em que o grupo percebeu que “um osso podia ser uma ferramenta ou uma arma”.
O ministro da Educação, numa participação à distância, em vídeo, falou do facto de a Europa ter assumido o espaço como um desafio e “da importância de ver Portugal acompanhar esse esforço e da UMinho estar na linha da frente dessa investigação”.