Vivem a menos de uma dúzia de quilómetros da praia da Rocha, Portimão, e a menos de 20 do Autódromo Internacional do Algarve, mas para chegar às suas casas, em Casais de Odelouca, não há sequer uma estrada alcatroada. Veja o vídeo.
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Têm noção de que esta é uma realidade pouco associada ao Algarve. Muitos nunca foram à praia, não sabem o que é um resort turístico ou um campo de golfe. "Mas somos Algarve, pois claro! O que havíamos de ser?", atira, convictamente, Soledade Silva, 76 anos.
Estes serão dos casos de idosos mais isolados do país na área coberta pela GNR, segundo um estudo recente. Jaime dos Reis Campos, 85 anos, vive sozinho na sua casa, isolada num monte.
Nunca casou - "umas não me quiseram, outras mandei-as eu embora" - e de família conta apenas com um irmão e uma cunhada, que vivem nas redondezas. Vizinhos, só no verão, ainda por cima ingleses. "São simpáticos, mas não percebo nada do que dizem", confessa, entre sorrisos. Vive sozinho, mas não tem medo de nada. Foi sempre assim e agora, garante, só sai dali "para trás do muro, lá no cemitério de Silves".
De vez em quando, aparecem-lhe potenciais compradores do seu "prédio" [casa e terreno agrícola]. "Vender? Nem pensar! Isto é meu e é aqui que estou bem", diz. E se lhe dá uma coisa de noite?: "Meu amigo, temos de nos conformar com o que temos e viver sem medo", afirma, sem hesitar.
Galinhas e muita água
Bom humor não falta, aliás, por estas bandas. A vizinha Maria Marques completou 100 anos em dezembro e diz que o segredo da sua longevidade assenta na pacatez da serra. "Ainda ponho comer às galinhas e faço a minha vida", conta, orgulhosa.
"E nunca bebi outra coisa que não fosse água", acrescenta, realçando a importância de ter comido sempre alimentos que a terra lhe deu. "Quem come essas coisas do supermercado, nas cidades, é que está pior. Isso não vale nada", afirma Jaime Campos.
Ambos veem televisão - as notícias principalmente - e concordam: "Só se ouve falar em crise". Uma palavra que não chega à realidade do seu monte. "Aqui sempre vivemos da terra, e a terra dá-nos tudo", assumem. E lamentam que a "malta nova" não queira saber da terra. "Só querem é empregos sentados à secretária, e desses não há", diz Soledade Silva.
"Já não consigo trabalhar e tenho ali a minha horta ao abandono. Mas não arranjo ninguém para a cuidar", conclui Jaime Campos.