Jenilsia Afonso teve de deixar de estudar para apoiar a mãe doente e não tem “como” sair do Talude Militar, onde chegou há um ano, e pagar uma renda de casa.
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Vinda de São Tomé e Príncipe, a jovem de 20 anos foi diretamente para o Talude Militar, referenciado por uma amiga, e ali montou “a barraca” onde vive com a mãe, que tem problemas de coração.
“Não tinha outra solução, não tinha outra alternativa”, diz, perguntando ao presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão, o que faria de diferente se estivesse na sua situação, com a mãe doente.
Demolida “a barraca”, estão agora as duas numa tenda emprestada.
“É muito triste. (…) Não tenho família cá, não tenho ninguém”, lamenta, relatando que foi à Casa da Cultura pedir ajuda.
“O que eles me ofereceram é uma renda e uma caução. Não tenho como. Não aceitei a proposta, porque não tenho como pagar o outro mês seguinte. Não tenho, não consigo”, repete.
Órfã de pai, que perdeu com a mesma doença da mãe, Jenilsia interrompeu o “sonho” de vir para Portugal e formar-se.
Com o 11.º ano concluído, teve que abandonar os estudos e ir trabalhar, porque a mãe não pode.
Entra às oito da noite e sai às oito da manhã do lar de idosos na Portela de Sacavém onde é cuidadora.
A autarquia de Loures iniciou na segunda-feira uma operação de demolição de 64 habitações precárias, que acolhem 161 pessoas.
Em dois dias, foram demolidas 55, antes da suspensão das operações por despacho de um tribunal de Lisboa, na sequência de uma providência cautelar interposta por 14 moradores.