O naufrágio de 2 de dezembro de 1947 foi noticiado como "a maior tragédia marítima de que há memória no norte do país". Apanhados de surpresa por uma tempestade, algumas embarcações tentaram regressar à costa matosinhense naquela madrugada, mas "quatro barcos foram engolidos pelo mar".
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"Em poucas horas, na sua fúria indómita, o mar engulira quatro grandes embarcações e 152 vidas". As traineiras foram resumidas a pedaços, que chegavam à praia e no areal ficou o choro de 71 viúvas e mais de 100 órfãos.
Na tarde do dia 1 de dezembro, 103 traineiras rumaram com destino ao mar de S. Pedro, a sul da Figueira da Foz, "conhecido como um excelente local para o lançamento das redes" para a habitual pesca da sardinha. Na viagem de regresso, os barcos foram apanhados por um "mar embravecido que não dava tréguas".
Só escaparam seis homens das traineiras "destruídas e aniquiladas" pelo mar, em Matosinhos. Eram elas a "D. Manuel", a "Rousa Faustino", a "S. Salvador" e a "Maria Miguel".
A notícia chegou ao JN no dia seguinte da tragédia, uma vez que tinha acontecido durante a madrugada. O "temporal trágico" ocupou três páginas inteiras do diário, numa cobertura que não se limitou apenas aos naufrágios junto à costa matosinhense, havendo chamadas para ocorrências em Lisboa, Braga, Aveiro, Ilha Graciosa e noutras terras do país.
Os seis sobreviventes, todos hospitalizados na Misericórdia, relataram ao JN os momentos que viveram na tragédia.
José de Oliveira Pinho foi o mais jovem entre os sobreviventes, com 20 anos. O pescador da "Rosa Faustino" descreveu os momentos antes da traineira se ter despedaçado contra a penedia de Lavadores: "Desde que caí ao mar até chegar à costa, só vi cadáveres. Alguns agoniantes pediam socorro, chamavam pelas mulheres e pelos filhos".
Naquele dia, o JN estampou os retratos das vítimas e abriu uma subscrição pública para apoiar as famílias das vítimas, que arrecadou mais de dois mil escudos.
Nas edições do dia 4 e 5 de dezembro, o JN acompanhou os funerais de algumas vítimas do naufrágio das traineiras, que foram comparticipados pela Junta Central das Casas de Pescadores.
A par disso, também foi anunciados que no cemitério de Matosinhos seria construída "uma memória" com o objetivo de perpetuar o esforço dos pescadores portugueses, que naquela catástrofe perderam a vida.