Novo presidente da Câmara assume que o abastecimento de água será feito por um sistema multimunicipal gerido pelas Águas de Viseu, recusando a empresa do Douro e Paiva. E recusa qualquer acordo com a oposição, que tem maioria, apostando no diálogo.
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O presidente eleito da Câmara de Viseu, João Azevedo (PS), garante que avançará com a requalificação do pavilhão multiusos e abandonará a criação do Centro de Artes e Espetáculos (CAEV) desejado pelo seu antecessor, Fernando Ruas (PSD).
Em entrevista à agência Lusa, João Azevedo disse que o seu executivo manterá todos os projetos que considerar importantes para o desenvolvimento do território, mas esquecerá aqueles que não tenham viabilidade económica, como o CAEV.
"Não tem orçamento, não tem financiamento público e não tem projeto", sublinhou o novo presidente, explicando que, quando tomar posse, o seu executivo irá direcionar o esforço financeiro "para a reabilitação do multiusos, que tem de ser uma verdadeira arena".
O objetivo é "democratizar o multiusos para a educação, a formação, a cultura, o recreio, o turismo, o lazer" e para conseguir ter na cidade "grandes produções", evitando que os viseenses as tenham de ir ver a outras cidades.
João Azevedo retoma assim uma ideia de Almeida Henriques (PSD), que foi deixada de parte por Fernando Ruas quando voltou à Câmara em 2021.
Águas
Na mesma entrevista, João Azevedo assumiu que o abastecimento de água será feito por um sistema multimunicipal gerido pelas Águas de Viseu, recusando a empresa do Douro e Paiva.
"Nós temos de defender os interesses dos viseenses e, defender é utilizar aquilo que temos aqui há anos, com qualidade, com serviços técnicos de qualidade. Uma coisa que dá lucro, dá saldo positivo, com qualidade e eficiência. O que nós queremos é a barragem de Fagilde feita", afirmou João Azevedo.
A pensar nessa obra, foi assinado, em 15 de julho, um protocolo que transferiu a propriedade da atual barragem da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para o grupo Águas de Portugal (AdP).
Na altura, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, disse que estava lançado "definitivamente o processo que levará, dentro de sensivelmente quatro anos, à inauguração de uma nova barragem de Fagilde", a jusante da atual.
O novo presidente da Câmara de Viseu dispensou, assim, o abastecimento gerido pela empresa Águas do Douro e Paiva, aprovado pelo executivo anterior, liderado por Fernando Ruas (PSD) e pela Assembleia Municipal, em 30 de junho.
O modelo de gestão será pelas Águas de Viseu, empresa plurimunicipal que integra os municípios abastecidos pela barragem de Fagilde: Viseu, Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo e Sátão, sublinhou.
Questionado se os restantes autarcas estarão de acordo, João Azevedo disse que tem a convicção de que "todos os presidentes de Câmara querem o melhor para os [seus] territórios".
"Com diálogo vamos chegar a consenso e vamos chegar a um processo em que estaremos todos unidos. Nós estamos à procura dessa unidade", notou.
Diálogo ou combate
João Azevedo aposta igualmente no diálogo para gerir a Câmara, rejeitando qualquer acordo com a oposição que tem mais eleitos do que o seu partido.
"Nós temos de olhar para isto de uma forma muito tranquila. Quem quiser fazer isto por bem, terá toda a nossa solidariedade política. Quem achar que vem para aqui com táticas políticas, eu farei o combate duro na rua, que é onde eu estou bem, junto das pessoas", garantiu João Azevedo à Lusa.
Nas eleições de domingo, o PS venceu a Câmara de Viseu com mais 799 votos do que o PSD. Os socialistas conquistaram quatro mandatos. Na oposição ficou o PSD, também com quatro mandatos, e o Chega elegeu um lugar.
Na segunda-feira, o candidato eleito pelo Chega, Bernardo Pessanha, revelou à Lusa que rejeita coligações, não aprovará medidas socialistas e só concordará com o que for bom para os viseenses. E disse que pedirá uma auditoria às contas.
João Azevedo disse que o Chega pode fazer "aquilo que entender" em relação às contas autárquicas, mas o novo executivo não tem essa intenção.
Transportes gratuitos
Sobre as medidas a aprovar, João Azevedo questionou se "os vereadores da oposição estarão contra um investimento das áreas empresariais para criação de emprego" ou "a gratuitidade dos transportes públicos".
"Eles terão de dizer porque é que votam, com todo o respeito democrático", vincou João Azevedo, acrescentando que "o povo é soberano e sabe bem em quem confiar".
E realçou: "Não há acordos nenhuns. A única coisa que vai haver são conversas e explicação, tolerância absoluta. O acordo é tratar bem do território e fazer desta cidade e deste concelho liderante na região Centro".
João Azevedo disse que pretende "encetar rapidamente a planificação da reabilitação das áreas de localização empresarial, em paralelo com a revisão do PDM (Plano Diretor Municipal)".
"Parece-me que isto está muito travado, é preciso desbloquear e rapidamente reagir, para que possamos ter respostas para as entidades que já nos contactaram nas últimas horas" com o intuito de se instalarem no concelho.
Segundo João Azevedo, "as pessoas estavam fartas de não ter respostas", devido a "um modelo com um travão enorme que não respondeu àqueles que querem fazer investimento".
No que respeita aos transportes públicos, João Azevedo pretende que o sistema Mobilidade Urbana de Viseu (MUV) tenha "mais rotas, melhores horários e gratuitidade".
Neste âmbito, vai rever o contrato existente com a empresa concessionária do MUV "relativamente às rotas e à melhoria de horários", e estruturar o próximo orçamento municipal para que os transportes públicos passem a ser gratuitos.

