João Goulão, diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), pediu, esta terça-feira à tarde, no Porto, "mais fiscalização" quanto à venda de álcool a menores. O responsável participou num fórum promovido pela Associação de Bares, dedicado ao consumo de bebidas alcoólicas pelos menores de 18 anos, que considerou tratar-se um "problema complexo".
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No Ateneu Comercial do Porto, onde decorreu o encontro, João Goulão não deixou de se referir ao "botellón" e a outros fenómenos associados ao consumo de álcool por parte dos adolescentes, realçando o "impacto" na saúde mental, traduzido em "patologias" e casos de "violência", entre outros.
Também referiu que os profissionais dos Bares e Discotecas ficam numa situação "difícil". Pois, a Lei permite a um jovem entrar numa discoteca com 16 anos, mas impede o consumo de bebidas alcoólicas antes dos 18 anos.
Lembrou que em Portugal começou-se por proibir, num primeiro momento, apenas a venda de bebidas espirituosas, mas que "numa segunda investida" essa proibição foi alargada a todas as bebidas alcoólicas, aos menores. Assinalou que em alguns países essa diretiva estende-se até aos 21 anos.
Admitindo que, em Portugal, aprovada a medida, ficou, desde logo, a "perceção" que a Lei seria difícil de fiscalizar, pediu, no entanto, "mais fiscalização", dados os efeitos que o álcool causa.
António Fonseca, presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto e promotor da iniciativa, deu voz à "preocupação" dos empresários, que não querem arcar com as culpas dos "excessos" que se tornam visíveis na via pública. Manifestou "total abertura" da associação para colaborar, nomeadamente para iniciativas que ocorram nas escolas, com alunos e encarregados de educação.
Falta o "trabalho em rede"
Em representação da CONFAP-Confederação Nacional das Associações de Pais, Jorge Ascenção deu ênfase à "prevenção".
"Fica complicado quando temos de dizer aos nossos filhos que não podem ir à discoteca", declarou, apontando que "não há um trabalho de rede efetivo", numa referência ao papel das instituições e da sociedade em geral.
Falou de outras dependências, como "a do ecrã, designadamente do telemóvel", e criticou o Estado por não ter a CONFAP à mesa, na "concertação". Realçou que as famílias estão "muito centradas no rendimento, em colocar alimento na mesa", e que a discussão dos temas é feita por cada família, à sua maneira.
Mesmo assim, falou em avanços: "Estamos muito melhor do que há uns anos. É um caminho que se vai fazendo. Há outro conhecimento e vontade".
O presidente da Delegação do Norte da Ordem dos Psicólogos, Eduardo Carqueja, foi ao encontro das palavras de Jorge Ascenção, salientando que é preciso "trabalhar em rede, envolvendo também os adolescentes".
"Se não forem atores, vão sentir que as coisas são-lhes impostas", explicou, defendendo a "criação de um plano nacional, com especificidades regionais".
Qualificou a temática das dependências, entre as quais a do álcool, como "questões da sociedade", e adiantou que a Ordem dos Psicólogos tem-se posicionado como um "parceiro ativo", prometendo manter esta abertura junto das autarquias, por exemplo.