A Invicta não pode ser apenas uma cidade turística "para inglês ver", avisa o novo presidente da Associação de Comerciantes do Porto.
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Joel Azevedo, empresário da restauração de 37 anos, promete apoiar a divulgação do comércio tradicional, defende que a limitação da circulação automóvel deve ser bem ponderada de forma a não prejudicar os negócios e pede critérios menos rígidos para as lojas de tradição, no âmbito do programa lançado pela Câmara.
Qual é o maior desafio para este novo mandato?
Credibilizar mais a associação e potenciar o comércio. Não o turístico, que está emergente, mas principalmente o mais tradicional, que tem tido baixas significativas. Quero potenciar o comércio mais antigo e, obviamente, ajudar todos os processos de inovação que possam aparecer.
Como é possível salvar esse comércio tradicional? Está em risco com o "boom" turístico?
O turismo está muito circunscrito à Zona Histórica e o comércio abrange toda a cidade. Tenho assistido ao quase esquecimento das zonas mais periféricas. Temos de abranger toda a cidade e até numa inter-relação com outros municípios, potenciando linhas de circulação para ampliar as zonas de envolvimento turístico. Isso ajudará o comércio no seu todo, não só um comércio virado para o turismo. A cidade não é só interessante na Zona Histórica. O comércio torna-se mais forte se todo ele for mais forte. E por muitas empresas que surjam, com novo comércio, a verdade é que, das mais antigas, uma em quatro fecha todos os anos. Temos algo a fazer para manter esta cultura de diversidade no Porto.
Como se faz isso?
Há dificuldades até para lojas do Porto de Tradição potenciado pela Câmara. Deveria ser um elo facilitador. Porém, já me apercebi de que existirá mais dificuldade do que com a própria lei. Tentarei que sejam facilitados os critérios, que estão de novo em discussão pública, e representar a voz de todos os comerciantes. E também que todas as outras lojas com alguma tradição e profissões mais emblemáticas que não se encaixem nos critérios sejam acarinhadas e impulsionadas. Com isto, também irei apoiar a divulgação da sua atividade.
A que tipo de lojas se refere?
Pequenas livrarias, alfarrabistas, oficinas de livreiros, milhares de profissões. E há estabelecimentos que são de restauração e bebidas mas potenciam uma arte cultural que deve ser mais evidenciada.
Que apoio dará a esse comércio?
A nível jurídico, contabilístico, na divulgação e na procura de sinergias. Só seremos mais fortes se nos apresentarmos juntos.
O que exigirá da Câmara, para além da flexibilização dos critérios para as lojas históricas?
Verei na Câmara um parceiro. Um problema que poderá existir é o da segurança no Centro Histórico. O Porto tem de ser mais seguro. O número de efetivos de segurança a circular na cidade tem diminuído. E está menos limpa. Se tenho caixotes de lixo cheios à porta do meu estabelecimento, estou a ser prejudicado.
Quer mudar o horário das lojas?
Se o comerciante quiser fechar ao sábado, deve fechar. Mas pode achar que tem mais rentabilidade nesse dia e que deve fechar à segunda-feira. Não pode haver uma regra geral. A Câmara tem de ser flexível e rápida na autorização destas diferenças de horário.
Concorda com os parquímetros ao sábado no centro da cidade?
Identificamos a mobilidade como um setor preocupante. Não podemos limitar todo o Centro Histórico à circulação pedonal e depois querer serviços. Começa a haver um distanciamento entre quem vive na cidade e os turistas. Como sabemos, quase toda a gente circula de automóvel. Essa limitação deve ser bem pensada, potenciando a mobilidade de todos, sobretudo dos que cá moram, mas também preocupados com as implicações no comércio. Ao fechar uma rua, há que ponderar aberturas periódicas de acesso ao comércio. Quanto aos parquímetros, defendo que, de X em X lugares, haja um para comerciantes estacionarem por um tempo reduzido.
Mas os parquímetros ao sábado vão prejudicar o comércio?
É óbvio que há impacto negativo. Preferia que não houvesse ao fim de semana. Os parquímetros que mais incomodam são em zonas com mais atração. Os próprios habitantes do Porto não conseguem ir ao Centro Histórico. E receio que façamos só uma cidade turística para inglês ver. Se se reduz o comércio mais característico, o Porto perde parte da identidade.
É possível integrar o comércio tradicional na rota do turismo?
É isso que deve ser feito, mas há comércio que não é integrante. Se quem precisa de comprar parafusos ou ferragens não tiver mobilidade para ir à Rua do Almada, essas lojas vão fechar para abrir mais uma de atração turística.
Qual a melhor forma de divulgar o comércio tradicional?
Não contem comigo para colocar balões e palhaços. Não farei eventos e nem gastarei fundos que provavelmente não temos para aumentar o comércio por um dia. Vamos ajudar os empresários a criarem ferramentas próprias, nomeadamente com formação. Muitos comerciantes não têm sequer uma página na Internet ou Facebook. Fazer festas de rua ou de montras nas lojas é mostrar trabalho sem verdadeiramente o fazer.
Pondera criar alguma nova plataforma para telemóveis?
A associação está a pensar em aplicações que possam potenciar o comércio. Temos de ver se será em parceria com a Câmara e com outras instituições.