Únicos habitantes de Casas da Serra viviam sem luz, a metros de parque eólico. EDP colocou posto de transformação e já não vão aos tropeções para a cama.
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José e Manuel já não vão precisar do telemóvel para se deitarem sem tropeçar. Ontem, a electricidade chegou a Casas da Serra. Os irmãos estavam felizes, mas sentidos: não foram convidados para o almoço promovido pela Câmara.
Ontem, Casas da Serra, em Boticas, viu, por momentos, o que há muito não via: muita gente. No âmbito de uma parceria com a Câmara de Boticas, a EDP instalou no local o posto de transformação que, finalmente, vai permitir levar luz eléctrica a José e Manuel Ferreira, os únicos habitantes da aldeia.
Além do director da Região Norte da EDP, Mário Guimarães, o acto foi presenciado pelo presidente da Câmara de Boticas, o social-democrata Fernando Campos, o vice-presidente, dois vereadores, outros convidados e muita comunicação social. A escuridão dos irmãos já tinha sido notícia por uma irónica circunstância. É que, a pouco mais de um quilómetro da aldeia, está instalado um parque eólico. Ontem, Mário Guimarães explicava, no entanto, que por motivos que têm a ver com a voltagem da energia saída do parque essa solução não era tecnicamente possível, e que só agora estavam reunidas as condições técnicas ideais para proceder à electrificação do local. O investimento terá rondado os 60 mil euros. Inviável, para já, mas que, para o responsável da EDP, poderá funcionar como "motor" para trazer gente à aldeia.
O mesmo pensa o presidente da Câmara, para quem a luz pode ajudar a potenciar o aproveitamento turístico do local. Para assistir à instalação do PT, ao contrário do irmão, José nem foi trabalhar. E até vestiu, "para não parecer mal", a roupa dos domingos: calça preta, pulôver azul e camisa às riscas. José é de poucas palavras, para mal dos jornalistas. Mesmo assim, foi dizendo que estava "muito satisfeito", que vai comprar uma televisão e um frigorífico, e que sempre confiou no presidente da Câmara, que há muito lhe prometia a chegada da luz. Mas, no final da festa, desiludiu-se. Depois das entrevistas, Campos e a comitiva partiram para um almoço comemorativo numa albergaria. José não foi convidado. Almoçou sozinho. E de seco: pão e presunto. "Quando estiver com ele (presidente), já lhe vou dizer, dar um recado!", afirmou.