Resultado da autópsia é ainda desconhecido. Alunos de Alcobaça já regressaram de viagem de finalistas e vão continuar a ter apoio psicológico.
Corpo do artigo
Após mais de 13 horas de viagem de autocarro entre Valência e Alcobaça, os 60 alunos da Escola Secundária de D. Inês de Castro, que regressaram um dia mais cedo da viagem de finalistas ao sul de Espanha, reuniram-se, por volta das 16.30 horas desta quarta-feira, com os familiares. O ambiente era de consternação, devido à morte do colega Xavier Rodrigues, filho do presidente da Câmara de Alcobaça, Hermínio Rodrigues. O jovem será sepultado esta quinta-feira, apesar de se desconhecer o resultado da autópsia.
A vice-presidente da Câmara de Alcobaça, Inês Silva, e o presidente da Junta de Freguesia de Pataias, Valter Ribeiro, que se deslocou a Espanha para acompanhar o pai de Xavier, asseguraram ao JN que as conclusões da autópsia ainda não são conhecidas. Contudo, o corpo do rapaz estará na Igreja da Misericórdia de Alcobaça para ser velado, a partir das 10 horas de quinta-feira. Segue-se um cortejo, às 14.30 horas, para a igreja de Pataias, onde decorrerão as cerimónias fúnebres, uma hora mais tarde.
Manuela Lourenço, presidente do Agrupamento de Escolas de Cister, relatou ao JN um clima de "consternação" à chegada dos estudantes à Escola Secundária D. Inês de Castro, que saíram do autocarro no interior do estabelecimento, para que fosse preservada a sua privacidade. "Senti um alívio enorme, por ter estes alunos junto das famílias, em segurança e a receber o conforto de que estavam muito necessitados."
Escola promete apoio
A cinco dias do início do segundo período, Manuela Lourenço garantiu que o regresso dos alunos está a ser "preparado com especial cuidado". "Queremos acolhê-los e apoiá-los com sobriedade, dentro de portas". À sua espera estarão os quatro psicólogos do Agrupamento de Escolas de Cister, onde Xavier Rodrigues estudou desde o pré-escolar até ao 12.º ano.
O aluno morreu na madrugada de terça-feira, alegadamente depois de se ter sentido mal, quando constatou que o quarto do hotel tinha sido assaltado. O operador turístico Sporjovem publicou um comunicado, onde diz que "na origem do trágico falecimento estão razões relacionadas com problemas de saúde pré-existentes e que, de forma súbita e inesperada, tiraram a vida a um jovem de 18 anos". Como o JN noticiou esta quarta-feira, Xavier tinha problemas oncológicos, mas a sua situação clínica era considerada estável.
"O jovem ainda foi transportado para o Hospital Geral de Castellon, em ambulância dos Serviços Médicos Espanhóis, tendo nesse mesmo hospital sido declarado o óbito", lê-se no comunicado da Sporjovem. "O Xavier era um jovem maravilhoso e inspirador", declarou na terça-feira ao JN Manuela Lourenço.
A frequentar o 12.º ano de Ciências e Tecnologias, era aluno do quadro de excelência. Da mesma turma que o irmão gémeo, tinha ainda um irmão mais velho. A mãe é professora.
Entrevista a João Lázaro, psicólogo clínico
Colegas sentem como se parte de si morresse
Qual o impacto que a morte de um jovem pode ter nos familiares, colegas e amigos?
A morte de um jovem é sempre sentida como uma perda maior, contrária à fantasia de vida em que nos projetamos. Não há palavras para descrever a dor mental sentida pelos pais aquando da morte de um filho, bem como não há palavras de consolo que ajudem a remediar a perda. Os amigos e colegas sentem estas mortes como se uma parte de si morresse também, isto é, surge a depressão enquanto perda do objeto amado, do sujeito a quem se queria bem.
A que sinais é que os pais destes jovens devem estar atentos?
Num tempo de luto há que entender o que é próprio da manifestação do luto: o choro, a tristeza, o silêncio, a incompreensão do que nos ultrapassa. A dor mental não se apaga, quando muito dilui-se com o tempo. Assim, dias de algum isolamento são próprios da incorporação da tristeza. Já alterações dos ritmos de sono e de alimentação, consumos excessivos, evitamento de contactos familiares ou discursos centrados exclusivamente na tópica da morte poderão ser sintomas de um sentir da dor mental a merecer atenção e cuidados técnicos.
Qual a melhor forma de lidar com estes jovens em luto?
A palavra é sempre reparadora. Escutar, escutar e escutar. Falar e voltar a falar. Estar junto de quem connosco partilhou uma vida perdida é o modo de nos sentirmos menos sós na dor.