Iniciativa do projeto "Maior Idade" está a levar cartas de amor, escritas por crianças e jovens, às caixas de correio de mais de 100 idosos de Ílhavo.
Corpo do artigo
"Há amizades que duram mais do que muitos amores. Espero que esta carta seja o início de uma boa amizade". Foram estas algumas das palavras que Bárbara Simões, de 20 anos, escolheu para endereçar a Preciosa Marujo, de 79, através de uma carta escrita à mão, com letras desenhadas a amor. É de amor que se trata a iniciativa do projeto "Maior Idade", da Câmara de Ílhavo, para marcar o Dia de São Valentim, que se celebra este domingo. Cerca de 100 crianças e jovens escreveram palavras de afeto a outros tantos idosos, que não conhecem, com um único objetivo: levar-lhes amor, em tempos de pandemia. Mesmo que pelo correio.
Preciosa já não sai de casa desde 11 de janeiro, devido ao confinamento. Leva-o a sério, por muito que lhe custe, por respeito aos outros e a si própria. "Tenho o Canção Nova, que é o canal de televisão de Fátima, como companhia. Já não gosto de ouvir as notícias, porque estão muito desagradáveis", conta.
Ao contrário do que vai acontecer com os restantes idosos - que estão a rececionar as cartas na caixa de correio -, Preciosa recebeu a missiva de Bárbara pelas mãos da própria, à janela da casa onde vive, sozinha, desde que o marido morreu no ano passado. Ela que já só tem um filho vivo, a residir em França, depois de ter perdido outros dois. "O que está em Paris, de 51 anos, é realmente o meu porto de abrigo, a minha tábua de salvação Liga-me todos os dias, mais do que uma vez por dia", conta.
A carta é lida pausadamente, com atenção e carinho. Como Preciosa faz com tudo o que lhe chega pelas mãos do "Maior Idade" e de Bruno Soares, gerontólogo do projeto. "Eu sempre pus uma boa amizade acima de tudo", diz, em resposta ao que acabou de ler e partilhando da opinião de Bárbara, uma jovem que até àquele momento não conhecia.
Iniciativas em pandemia
Preciosa Marujo teve contacto com o "Maior Idade" há alguns anos. Foi o filho quem soube do projeto, na Internet, e a inscreveu. Desde aí, já perdeu conta às iniciativas que levou a cabo com a equipa do mesmo. "São um aconchego que tenho. Às vezes, vejo nos jovens e nas jovens os filhos que Deus me levou. Foi o que aconteceu com o Bruno. Tive uma ligação com ele como se fosse o meu Márcio", confessa. É que Bruno, recorda a idosa, já a fez muitas vezes "rir à gargalhada".
Em época de pandemia, quase todas as semanas, Bruno ou alguém da equipa visita Preciosa, e outros idosos, à janela. Esta semana, vão levar-lhe um concerto, também à janela, no âmbito de outra iniciativa que está em curso. Sem contar com os telefonemas que lhe fazem. "As nossas ações são centradas no amor. E mostrar o amor é isto. Pode ser feito através de uma carta, de um estímulo ou de um concerto. Enquanto sociedade, precisamos de transmitir mais amor às pessoas mais velhas", sublinha o gerontólogo.
Com as cartas, houve outro objetivo, simples e claro: "estabelecer vínculos intergeracionais, mesmo em altura de pandemia".