A Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, rescindiu o protocolo de cedência das instalações à Refood, que lhe havia atribuído em 2015, depois de esta instituição ter pago o arranjo do espaço.
Corpo do artigo
As instalações vão agora ser ocupadas pela cozinha comunitária da Junta.
Miguel Coelho, presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, alega que a instituição - que recolhe sobras de refeições de restaurantes e cafés e distribui a carenciados - "não correspondeu às expectativas". Hunter Halder, responsável pelo projeto, diz que não entende a decisão e convida o autarca a dizer quais foram "as expectativas que não foram cumpridas".
A polémica está instalada. Hunter Halder, mentor da Refood, recorda, que após a atribuição das instalações na Rua do Poço do Borratém, a instituição fez obras de melhoramentos, que incluíram um chão novo e pintura e começou a preparar o projeto. "Encontrámos 843 restaurantes na freguesia dispostos a colaborar. É o maior núcleo do país, precisávamos até de uma supersede", conta ao JN.
A Refood começou a distribuir refeições em janeiro. Nesse mesmo mês, recebeu uma carta da Junta a dizer que teria de desocupar as instalações até abril. "Por carta registada, sem um contacto, sem uma reunião", enfatiza o fundador, admitindo que, "do ponto de vista legal, a Junta pode fazê-lo". "Pode é perguntar se o deve fazer", observa.
A ordem de desocupação foi cumprida e a solução provisória foi um quiosque no Martim Moniz, que tinha ardido e que a instituição recuperou. "Agora utilizamos um espaço de nove metros quadrados, onde temos cinco frigoríficos e montamos as mesas de preparação das refeições ao ar livre, apenas com um toldo, mesmo quando chove", descreve.
Junta aproveita espaço
Hunter Halder pediu uma reunião à Junta de Freguesia, que, garante, não lhe foi concedida.
Miguel Coelho, presidente da Junta de Santa Maria Maior, diz não querer alimentar a polémica. "Há razões que nos levaram a isto", sustenta, alegando que "o apoio na freguesia já existia e vai continuar a existir". "Se alguém, recenseado na freguesia, era apoiado pela Refood e tem necessidades, que se dirija à Junta", alega.
Ao JN, o autarca contou que vai agora transferir para as instalações desocupadas pela Refood o serviço de apoio alimentar e ali criar uma cozinha comunitária.
Confrontado com toda esta situação, Hunter Halder garante que no dia 30 de abril, tal como estava previsto, a instituição retirou os seus materiais e desocupou o espaço. Já os melhoramentos, como o chão novo, não foram possíveis de recuperar. "Não há explicações para isto. O presidente é um político, tem poderes. Talvez não esteja preocupado com as pessoas que passam fome... nós estamos", diz.
O mentor do projeto recorda que a Refood está em todo o país e que é o maior núcleo. "Não temos outro em que haja tantos restaurantes e tanta gente para servir", garante. Nesse sentido, aponta a necessidade de um espaço muito maior e sugere até a antiga estação fluvial do Sul e Sueste, no Terreiro do Paço, atualmente desocupada.
"Vamos continuar a trabalhar, no espaço que tivermos, e com o tempo que fizer, porque queremos é acabar com o desperdício alimentar e matar a fome às pessoas", conclui.