Há cada vez mais aficionados das lutas medievais. Nove equipas portuguesas e espanholas enfrentam-se este fim de semana em Carrazeda de Ansiães.
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As unhas negras que Carlos Dominguez mostra num momento de pausa entre a pancadaria que reina na Vila Amuralhada de Ansiães, este fim de semana, confirmam a violência que para ali vai entre portugueses e espanhóis. São ossos de um segundo ofício deste professor de Madrid, a quem pouco importam as mazelas colecionadas por este que já foi “niño a quien siempre le gustaron las espadas”.
A este e outros elementos da equipa Sala de Armas Carranza, da capital espanhola, foi vê-los, este sábado, a entrarem destemidos na liça – cercado em que decorrem os combates reais arbitrados – a lutar com espadas e machados, e outras armas com nomes menos familiares, dentro de armaduras de guerra medieval com cerca de 40 quilos de peso, “que protegem mesmo dos golpes”, e com o desconforto potenciado por 33 graus de temperatura ambiente.
Quatro equipas de espanhóis combatem contra cinco de portugueses – que “estão cada vez melhores”, segundo Carlos Dominguez – num ambiente histórico animado por músicas dos AC/DC, Metallica, Iron Maiden entre outros grupos de Heavy Metal.
“Vamos homens!” ouve-se frequentemente em tom de incentivo aos bravos guerreiros que entram e saem da liça com os olhos postos nas finais que se disputam este domingo de manhã.
Carlos Dominguez abre uma larga gargalhada quando lhe perguntamos se é profissional nesta arte. “Oxalá fosse!”, sorri. Percebe-se o quanto gosta de andar em “duelos”, que é ao que se dedica a equipa onde também há “dentistas, engenheiros, militares, entre outros”. Fazem-no para “praticar desporto com uma pitada de emoção” e porque “todos gostam de História”. Dizem que são “pessoas normais”, que se juntam para “andar à pancada” e que no fim vão todos “beber umas cervejas”.
Fale-se em castelhano ou em português, o vício é o mesmo. Maurício Ramos, da equipa Cavaleiros da Torre, do Barreiro, vê nestas lutas reais “uma forma de escape para aliviar o stresse do dia a dia” como reparador de máquinas industriais. Ele bem tenta “dar mais pancada do que levar”, mas já se sabe que “quem vai à guerra dá e leva”. Ele como muitos jovens já passou horas a fio com os olhos presos no telemóvel ou no computador, mas percebeu que “há outros interesses” e “dias bonitos cá fora”, pelo que acredita que chegará o dia em que “gente com cabeça vai parar para se dedicar a outras coisas”. Nomeadamente, “ter tempo para fazer amigos”, como ele que já correu “tantos sítios de um outro mundo melhor que o futebol”.
A iniciativa é da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães em parceria com a equipa Portvcale Combate Medieval. O autarca, João Gonçalves, anda satisfeito com a forma como o torneio decorre, a par do mercado medieval na zona histórica da vila de Carrazeda. “Já passaram por cá muitas pessoas que vieram tornar-se verdadeiros nobres medievais”, o que tem impacto na economia do concelho. Segundo o autarca, o objetivo é “trabalhar para que os combates de Ansiães possam vir a integrar um campeonato de lutas reais já existente”.