O primeiro leilão de bicicletas, acessórios, peças e equipamentos da Órbita, a fábrica de bicicletas de Águeda que faliu, rendeu, ontem, 270 mil euros, dinheiro que servirá para pagar apenas uma pequena parte das dívidas aos credores.
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Fonte próxima do processo disse ao JN que as dívidas da Órbita ascendem aos "15 milhões de euros, sendo que cerca de 10 milhões estão condicionados". Entre os valores "condicionados" encontra-se a dívida para com a EMEL, que ronda os seis milhões de euros.
O primeiro lote foi vendido por 170 mil euros, um valor 35 mil euros acima do preço-base de licitação, que era de 135 mil euros. Foi arrematado por uma empresa dedicada à compra e venda de material em leilões.
Para o segundo lote, que tinha um preço-base de 175 mil euros, foi feito o registo de uma oferta de 100 mil euros, que está condicionada a uma aprovação posterior da comissão de credores, explicou a leiloeira do Lena que, ontem, conduziu o leilão nas instalações do antigo gigante das duas rodas, na Póvoa da Carvalha, Águeda. A proposta foi de um empresário de outro distrito, que se dedica à venda de peças e acessórios de bicicletas.
Património não chega
Para além do material vendido ontem, a Órbita tem mais peças e as instalações fabris para vender. Ainda assim, os bens da empresa de bicicletas não deverão valer mais do que "1,2 milhões de euros, pelo que não darão para pagar mais do que cerca de 20% do valor da dívida dada como certa", acrescentou a mesma fonte.
Filipe Mota, o único trabalhador que ficou até ao fim na Órbita, marcou presença no leilão. Os outros cerca de 40 funcionários, que tinham salários em atraso, "não aguentaram e decidiram ir embora por iniciativa própria", perdendo direito a indemnizações, explicou ao JN.
O ex-trabalhador, que chegou a apresentar-se ao serviço com cinco meses de salários em atraso, resistiu e lidera, atualmente, a comissão de credores.
Segundo explicou, o dinheiro do leilão "serve para pagar as despesas da massa falida", a ele próprio, que é "credor prioritário" e tem a receber cerca de 50 mil euros, e depois, "em proporção, os restantes credores": outras empresas, bancos e ao Estado.
Filipe Mota trabalhou na Órbita durante 18 anos, até abril de 2019. Na mesma altura "saíram os funcionários da Miralago", a empresa-mãe que também faliu, lembrou.
As dificuldades da Órbita fizeram-se sentir em 2019 e, apesar da tentativa de apresentação de um plano de revitalização e de procurarem novos investidores, tanto a Órbita como a Miralago acabaram mesmo por ir à falência (ler cronologia ao lado).
Cronologia
2 de fevereiro de 1971 - CRIAÇÃO DA EMPRESA
Empresa com sede em Águeda foi criada com 95% do capital detido pelo grupo Miralago S.A.. O nome "órbita" ficou-se a dever ao ano de fundação da empresa que coincidiu com o primeiro satélite a orbitar o espaço celeste para explorar Marte. Fabricava mais de 60 modelos para crianças e adultos, normais ou elétricas e em aço, alumínio ou carbono.
Abril de 2019 - QUEIXAS
A EMEL, após meses de queixas de atrasos, anunciou a rescisão do contrato de gestão do sistema de bicicletas partilhadas, alertando para as dificuldades da Órbita e da Miralago (dona da òrbita). Vários trabalhadores saíram e os sócios procuram novo acionista.
Junho 2019 - REVITALIZAÇÃO
A empresa de bicicletas Órbita apresentou um Processo Especial de Revitalização, com o objetivo de renegociar as dívidas com os credores.
Dezembro de 2019 - LIQUIDAÇÃO
A Miralago deliberou pela liquidação da fábrica de Águeda. O Tribunal de Anadia declarou que a extinção da atividade e os bens da empresa serão vendidos para pagar dívidas.
Fevereiro 2020 - INSOLVÊNCIA
A fábrica de bicicletas Órbita, em Águeda, foi declarada insolvente pelo Tribunal de Comércio de Aveiro. A notícia surge dois meses depois da empresa mãe (a Miralago) ter entrado na fase de liquidação.