No âmbito da I Conferência Levadas do Alvão, que decorreu esta terça-feira em Mondim de Basto, Emídio Gomes, reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, foi muito crítico em relação às políticas que os sucessivos governos têm adotado para tentar desenvolver o interior do país.
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“Tem faltado uma política que olhe para o território como um todo. Olhamos para as questões do interior com políticas de alguma condescendência e parca distribuição de recursos. Nos últimos 40 anos não tem havido uma visão política do país como um todo”, referiu o dirigente, que já presidiu à CCDR Norte, elogiando o projeto de exploração turística das Levadas do Alvão que está a começar em Mondim de Basto.
“Não temos alternativa que não seja criar emprego e desenvolvimento económico e a natureza é uma fonte de emprego e de toda uma economia que tem que ser olhada pelo país. Falta-nos capacidade para perceber que falta valorizar o território com atividade económica como um desígnio nacional e não só o aeroporto de Lisboa. Falta-nos visão global”, criticou.
Numa intervenção muito direcionada para a falta de atenção que o poder central tem dado ao território que não engloba a faixa de Braga a Setúbal, Emídio Gomes destacou o papel das autarquias para tentarem inverter esta tendência. “Os municípios, nos últimos 15 anos, olham para o território para dinamizar a atividade económica e sem isso não terão futuro. Mas o futuro tem de ter pessoas. O país é demasiado pequeno para ser tão desequilibrado”, disse.
Numa mesa redonda dedicada a debater a coesão dos territórios e o desenvolvimento sustentável, participou também António Marques Vidal, presidente da Direção da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, que centrou muito da sua intervenção nas dificuldades burocráticas que as empresas enfrentam em Portugal para poderem ser ágeis no setor do turismo. “A gestão do território não pode ser de papéis e de cariz administrativa e processual. A gestão tem de ser ágil porque o turismo é vivo. Hotelaria restauração são quem mais produz mas ninguém vem para Mondim só para dormir no hotel. Vêm para viver e são as empresas que lhes dão os conteúdos. Este projeto das Levadas do Alvão parece-me ser muito atrativo”, considerou, apelando às autarquias para que criem “um sistema para receber as empresas e enquadrá-las numa lógica e numa estratégia definida". "O território tem de ser aberto mas com regras”, defendeu.
“Impactos positivos multiplicadores” é o que Isabel Sousa, docente universitária e empresária que se dedica ao Turismo da Natureza, espera que este projeto venha a ter nesta zona de Trás-os-Montes. Com uma experiência mais centrada no Alto Minho, Isabel Sousa vê esse potencial por ser “um ativo único no continente com um valor paisagístico e de biodiversidade fantástico”, destacando a necessidade de se precaver a “viabilidade económica das empresas que se dedicam a estes projetos". "Isso é essencial”, asseverou.
A I Conferência das Levadas do Alvão termina na tarde desta terça-feira com uma visita às levadas.