Um jovem de 24 anos desapareceu, ontem, quinta-feira, entre as praias da Fragosa e do Esteiro, em Aver-o-Mar, Póvoa de Varzim. José Augusto Silva, residente em Famalicão, foi levado por uma onda, quando molhava os pés, em zona não vigiada, onde o mar é sempre perigoso.
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"O meu filho, Martinho, contou-me que foi dar um mergulho e quando viu que o mar, naquela zona, tinha um fundo falso avisou que o mar estava puxar. Logo a seguir, veio uma onda e levou o Zezé [como era tratada a vítima pelos amigos). O meu filho e outro amigo, Bruno, ainda tentaram agarrá-lo, mas ele estava a ser arrastado e tiveram que largá-lo, senão iam também”. As palavras de Isaura Borges, mãe de um dos cinco jovens que estavam com José Augusto na praia, saem aos soluços.
Os seis amigos, todos escuteiros, residentes na freguesia da Lagoa, em Vila Nova de Famalicão, foram passar o dia à praia, junto ao apartamento de férias da família de um deles. Zezé desapareceu no mar.
“Que ao menos ele aparecesse”, pedia Isaura com os olhos postos no céu, onde o helicóptero da Força Aérea prosseguia as buscas, apoiado no mar por duas embarcações, uma mota de água do Instituto de Socorros a Náufragos e um navio patrulha da Marinha.
José Augusto foi levado pelo mar cerca das 13.10 horas de ontem. Às 23 horas continuava desaparecido. Bruno Marques, de 17 anos, um dos amihos que tentou resgatá-lo, foi transportado para o hospital da Póvoa com sinais de hipotermia. Rogério Araújo, também de 17 anos, seguiu para o mesmo hospital em choque. Ambos tiveram alta durante a tarde.
Os restantes três amigos que àquela hora ficaram na praia receberam acompanhamento psicológico. Durante o resto do dia, os cinco permaneceram junto à praia. Em silêncio.
“Estava bandeira amarela e o mar estava muito perigoso. Os nadadores da praia da Fragosa e do Esteiro [as zonas vigiadas contíguas] ainda se atiraram à água para tentar salvá-lo, mas já não conseguiram”, contou, ao JN, Sofia Grilo, a nadadora-salvadora que, após o almoço, vigiava a praia da Fragosa. A zona é, assegurou, perigosa.
No areal a assistir às operações de busca, Luís Castro lamenta que os jovens façam “muitas vezes orelhas moucas” e não respeitam as bandeiras. “Fui 24 anos nadador-salvador. As pessoas ignoram os avisos e as bandeiras. Esta zona é perigosa”, contou.
Manuel Sá Coutinho, o comandante da Capitania da Póvoa, também lamenta que as pessoas escolham áreas não vigiadas para fazer praia e confirma que, à hora do acidente, o mar estava “perigoso”, com bandeira “amarela a passar para vermelha”. As buscas por mar foram suspensas às 20. 30 horas e serão retomadas hoje de manhã. Ainda ontem à noite, aproveitando a maré baixa, estavam previstas buscar por terra.
Em Lagoa, Famalicão, terra onde vivia José Augusto, o ambiente era de luto. O chefe dos escuteiros, Vítor Capela, não encondia a emoção. “Eram todos escuteiros. É uma situação que nem sei o que fazer”, disse ao JN.
Na rua onde mora a família do jovem a consternação era notória. E quando a mãe de José Augusto soube desmaiou e caiu. Teve de ir para o hospital para receber tratamento a alguns ferimentos. Ao fim da tarde, o casal esteve na praia, contando com acompanhamento psicológico.
José Augusto, 24 anos, trabalhava numa confecção próximo de casa, na freguesia da Lagoa, em Vila Nova de Famalicão, onde morava com os pais. Era filho único. Há um mês, sofrera muito com a morte do avô. Escuteiro, cantava no grupo coral e fazia parte da marcha da freguesia que participava nas Marchas Antoninas na época das festas da cidade.
A notícia do seu desaparecimento deixou vizinhos e família em choque. “Parece impossível”, dizia Isabel Silva, prima de “Zezé”( como era tratado por amigos), acrescentando que o jovem não sabia nadar. Isabel Silva diz mesmo que “ fugia sempre da água”. E isso, conta, pode comprovar quando, juntamente com a família do jovem, passou uns dias na praia.