Padre Paulo Emanuel andou, este domingo de manhã, a benzer autocaravanas em Ponte de Lima, numa ação inédita fora do santuário de Fátima.
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Joaquim Araújo, natural de Santo Tirso, viajou de Montalegre, onde viveu a Sexta-feira 13, para participar, este domingo, numa bênção de autocaravanas, integrada nas festas de Samiguel de Cabaços, na União de Freguesias de Cabaços e Fojo Lobal, em Ponte de Lima.
Na "Joca", nome com que batizou o veículo, juntando as sílabas iniciais de Joaquim e Carla, sua mulher, anda na estrada por estes dias a reboque de mais um encontro do grupo “Autocaravanistas dos Encontros Improváveis”, que juntou cerca de 60 autocaravanas que foram hoje benzidas pelo pároco Paulo Emanuel, numa iniciativa inédita fora do santuário de Fátima, onde todos os anos, no primeiro fim de semana de dezembro, se celebra o maior encontro do país, no Dia do Autocaravanista.
“Já benzi em Fátima. O importante não é só a benção, o importante é nós acreditarmos. Acredito que ajuda a fazer boas viagens”, conta Joaquim, que desde há seis tem “a liberdade” de percorrer com a mulher caminhos de Portugal. “Sexta-feira à tarde arrancamos. Domingo estamos em casa. Podendo, é sempre assim e tem corrido bem. As bênçãos ajudam. Temos que acreditar que há coisas superiores que nos ajudam muito. Até hoje, felizmente, nunca tive nenhum acidente”.
“É a primeira vez que benzo assim só autocaravanas”, disse o sacerdote, que, enquanto lançava água benta, desejou aos autocaravanistas que "sejam acompanhados por Deus”. “As viagens são muito incertas, porque não contamos só connosco. É necessário nós termos prudência e respeitarmos os outros, mas também pedir ao Senhor que nos faça todos os irmãos e olhemos uns pelos outros. Pedimos que sejam abençoados os que vão conduzir a autocaravana e também as outras pessoas do espaço que percorram”, declarou o pároco, lembrando que “o bem que fazemos é quase um perfume que se espalha para os outros, portanto, eles [os autocaravanistas] serão embaixadores da bênção de Deus onde quer que estejam”.
A bênção das autocaravanas foi organizada por Mário Aráujo, residente em Friastelas, freguesia vizinha de Cabaços, em Ponte de Lima, e administrador do grupo “Autocaravanistas dos Encontros Improváveis”, que conta 5700 membros. “Já faço estes encontros há quase três anos. Quando comprei a autocaravana, não conhecia ninguém e lembrei-me de começar a arranjar pessoal de sítios onde nunca se fizeram concentrações. É tudo muito improvável, por exemplo, quem é que se lembrava de pôr autocaravanas aqui [em Cabaços]?”, atira Mário, contando que desafiou o padre que o casou e lhe benzeu o automóvel a realizar a cerimónia deste domingo.
“Aceitou logo a ideia. Em termos de bênção de autocaravanas, que eu tenha conhecimento, só tem havido em Fátima, no primeiro fim de semana de dezembro. E nos meus mais de cinquenta encontros nunca se tinha feito nenhuma”, disse, indicando que os autocaravanistas são oriundos de vários pontos do Norte do país, desde Leiria, Oliveira de Azeméis, Arganil ou Santa Maria da Feira. “Muitos têm fé”, garante.
Joaquim Lucas viajou com a mulher, Maria Goreti, de Vermoim, Vila Nova de Famalicão, para Cabaços, na sua autocaravana “Vitória”. “Já é a quarta que tenho. Isto é andar em liberdade aí por todo o lado. Trazemos sempre a casa connosco. O mais longe que fui foi Espanha, mas temos aí um projeto para o próximo ano. Já andei por lá quinze dias, um mês e a próxima [viagem] se calhar é para aí três ou quatro meses”, conta Joaquim, referindo que levou todo os seus anteriores veículos à benção a Fátima. “Numa aldeia pequena assim com tantas autocaravanas, nunca tinha visto”, comenta.
No recinto, perto da igreja de Cabaços, entre dezenas de outros veículos, estavam Ana e Leonel Brito, da vila de Côja, Arganil, com a sua autocaravana “44” - um nome alusivo ao dia em que foi comprada, que calhou na data do 44.º aniversário de casamento do casal, que se diverte estrada fora a descobrir “sítios bonitos”.
“Temos aventuras de dois velhos malucos, de sair à tarde de casa e ir para o pico da serra do Açor assistir ao pôr do sol e de manhã levantarmo-nos às 5 horas, com um frio terrível, embrulhados em mantas, só nós os dois, para ver o sol a nascer”, conta Ana, descrevendo o que sente como “liberdade”. “Isto é uma casa pequena, mas tem tudo e dá-nos a liberdade de estar nesta aldeia hoje, amanhã estar noutro sítio, acordar com a janela virada para o mar, ver o nascer o sol na serra ou o pôr do sol”, descreve a autocaravanista, que anda com o marido na estrada há 16 anos. E conta: “Estamos à espera de, para o ano, fazer uma viagem mais prolongada. Andar pela Europa seis meses”.
Na pequena aldeia de Ponte de Lima, aproveitaram para oficializar o batismo do seu “hotel de cinco estrelas”. “Falámos com o senhor prior e vamos batizá-la hoje. Já fomos várias vezes a Fátima, mas nunca se proporcionou”, justifica, enaltecendo a ação do pároco. “É um padre do povo. É uma pessoa social e muito espetacular”.
As festas de Samiguel de Cabaços prolongam-se até 22 de setembro.