"Se a linha fosse só para mercadorias, seguramente que já valia a pena", afirmou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, sobre a proposta do transporte de alta velocidade entre o Porto e Madrid, que foi discutida esta segunda-feira, numa conferência que reuniu autarcas de municípios do Norte do país e de Zamora.
Corpo do artigo
"De todas as regiões portuguesas, somos a mais desequilibrada, entre o interior e o litoral", afirmou Rui Moreira, referindo que a constução desta linha contribuiria para unificar o Norte. O traçado "é importante para facilitar as ligações até Madrid, a maior capital ibérica. Mas é preciso perceber que só faz sentido se for acompanhado de políticas regionais competentes".
A construção de uma rede ibérica de alta velocidade já vem a ser pensada desde 2001, mas "claramente que o Governo espanhol andou mais depressa com a ferrovia e com grande sucesso", sublinhou o autarca, afirmando também que, para a região se ligar aos países centrais da Europa, "as autoestradas do mar não servem".
O projeto da Associação Vale D"Ouro representa também, muitos benefícios para o Porto de Leixões. "É um investimento que faz sentido. O porto é finito quanto ao seu desenvolvimento e no dia em que receber mais mercadorias é preciso pensar em alternativas quanto à logística e operação da estrutura. Não se pode crescer apenas em direção ao mar", disse Carlos Mouta, vice-presidente da Câmara de Matosinhos.
De acordo com Luís Almeida da Associação Vale D'Ouro, o projeto "desmistifica a ideia de que o comboio não vai além do túnel do Marão". Além da linha representar um enorme peso na redução do tempo das viagens, o traçado assegura as ligações com a rede já existente.
A pouco mais de 40 quilómetros, Bragança tem a linha de alta velocidade "à mão de semear". Mas a proximidade nunca significou esse desenvolvimento para este território, uma vez que "a ligação até Zamora nunca aconteceu, mesmo tendo sido discutida em 1987", explicou o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias.
"O interior sempre foi discriminado e, politicamente, nunca se entendeu o país como um todo. Mas este projeto é como o coser de territórios que nunca estiveram ligados, nem pela ferrovia, nem pela rodovia", continuou aquele autarca.
Reconhecendo a importância do desenho projetado pela associação, Pablo Novo, representante da Câmara Municipal de Zamora, explicou na importância da ideia de intermodalidade: "Esta linha faz-me pensar num modelo que já está a ser aplicado em Espanha, chamado "train and flight" ("comboio e vôo", traduzido para português), em que o cliente compra um bilhete conjunto para dois ou mais transportes. É muito eficiente quanto ao turismo".
"Sentimento de justiça"
A construção do troço é também "o sentimento de esperança de que seja feita justiça pelos anos e dinheiro perdidos", referiu o autarca de Vila Real, Rui Santos, destacando que em 1990 e 2009, a cidade deixou de ter ferrovia, ao perder as ligações com Chaves e Régua, respetivamente.
O traçado idealizado pela Associação Vale D"Ouro propõe ligar o Porto a Madrid em pouco menos de três horas, numa extensão de 290 quilómetros, passando por vários territórios de Trás-os-Montes. Cidades como Vila Real ou Mirandela ficariam a apenas 30 e 45 minutos do Porto, aponta o documento hoje em debate.
O tráfego da linha será misto, com velocidade até 250 quilómetros por hora no transporte de passageiros, e 120 quilómetros por hora no caso de mercadorias.
O custo estimado é de 4,5 mil milhões de euros, mas vai depender, caso a linha seja totalmente dupla. Caso haja via dupla até Amarante e o restante troço tenha apenas uma linha, o envelope financeiro baixa para 3,5 mil milhões.
Entendimento pluripartidário
Também no mesmo debate, o presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, pediu que as linhas de alta velocidade ferroviária a construir no país sejam alvo de consenso político, suporte técnico e rapidez na decisão.
"Acho que são boas duas coisas, e este Governo já mostrou disponibilidade para isso: que estas decisões sejam tomadas na base de um entendimento pluripartidário, em particular com o principal partido da oposição. A questão do TGV é tão importante como a questão do aeroporto de Lisboa, como é óbvio", afirmou.
O segundo ponto mencionado por Francisco Assis, foi o desejo de que "a decisão tomada o seja com base num suporte técnico rigoroso". "Terceiro, que estas decisões não sejam postergadas no tempo a ponto de nós continuarmos a adiar o desenvolvimento do nosso país", disse o antigo eurodeputado aos jornalistas no final da conferência.