Limousines sem rodas e porcos com dinheiro. Há de tudo um pouco e muita gente na Agrival
A 43.ª edição da Agrival, que termina no domingo, 1 de setembro, com o afamado fogo de artifício, recebeu dezenas de milhar de pessoas, desde que abriu portas a 23 de agosto, incluindo um afã inusitado de políticos. À semelhança dos anos anteriores, a expectativa é de acolher de 150 mil pessoas nos 10 dias do certame.
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Num espaço com mais de 30 mil metros quadrados e 350 expositores, de áreas tão diversas como o imobiliário ou a venda de gado, artesanato e novas tecnologias, há um pouco de tudo na Agrival. Mas a alma da Feira Agrícola do Vale do Sousa está num socalco no fim do Parque de Exposições de Penafiel, sobranceiro à variante do Cavalum e ao lado do palco principal do recinto, que este sábado recebe Matias Damásio. No fim dos degraus, vencidas as tentações nos vários stands auto, de duas e quatro rodas, e que atraem muita gente, o cheiro a curral indica o caminho para o coração do certame, a bater desde 1980.
Maria João sorri de alegria sentada num trator azul, o favorito. Já pensou em ser bailarina, mas por agora está mais interessada nas máquinas agrícolas e ri-se com a ideia de chegar de trator à escola. Com sete anos, saltita sorridente no banco de um “New Holland”, que visto de frente, descontando o rodado, parece um dos carros típicos de corrida dos anos 50 do século passado. “Já experimentou todos até aqui”, diz o pai, apontando a fila de tratores, bordejada por vários tipos de máquinas e alfaias agrícolas, que ocupa um dos setores abertos da Agrival.
Ao lado, há limousines sem cobertura, portentos de força; não têm rodas, mas quatro patas, os imponentes touros desta raça originária da região Limousin, em França. O mais robusto, 24 meses e pesa 1320 quilogramas, destaca-se entre os animais, especialmente bovinos, que descansam na palha já com nome do talho de destino. Os cavalos, mais irrequietos, resfolgam.
“É isto que ele gosta”, diz José Pereira, que passeia com o neto Dinis junto dos animais. Cheira a curral, mas moscas só estão interessadas no gado ou nos equídeos. “Gosto mais daquele”, diz o pequenote, apontando para “Uivo”, um possante cavalo preto. A a pose do vizinho do lado condiz com o nome, “Herói”, um cavalo branco que se basta para ser protagonista.
Natural de Paredes, José Pereira diz que é de Guilhufe, Penafiel, onde fez vida adulta. Mas não se esquece das viagens de mota do concelho e cidade vizinha, até à Agrival, feira que está na memória e na vida de todos na região há 44 anos – só faltou em 2020, no ano de todas as interrupções. “Venho cá todos os anos, mas acho que já esteve melhor”, diz, enquanto deita o olhar para “irrequineto”. Dinis faz amizade com outro menino e ficam-se a admirar os desajeitados potros e as mães.
Os porcos que Fátima Mota vende são de louça. Há em cor de rosa e azul com brilhantes, e a ranhura para as poupanças. “Bem que é preciso”, sorri Fátima Mota, explicando o “top” dos mais vendidos no stand da Loucinter, presente na Agrival há 40 anos: assadeiras, pratos para a francesinha, canecas de barro, tigelas para o caldo verde. Louça de barro, a lembrar a tradição.
“Ainda há muito interesse das pessoas neste tipo de louça. Está a correr bem”, diz Fátima Mota. “Em relação ao ano passado, anda menos gente de dia e mais à noite”, comenta, com um reparo. “Devia ter mais artistas para os mais velhos, é tudo para os mais novos e a juventude não compra”, lamenta, enquanto vai desfiando outros sucessos de venda na Agrival: assadores de chouriço, telhas para o bacalhau e alguidares para a sopa seca. E um porco mealheiro, grande ao ponto de ser de ficar no chão, para as poupanças de uma vida.
O porco também está em destaque nos “Fumeiros Casa de Lamego”, mas processado em enchidos e presunto, vendido à fatia, em nacos ou em sandes de tamanho extra, sete euros, ou com queijo, 8,5 euros, em pão de água. “Dá para duas pessoas. Com um fininho, está o almoço feito”. Ou com um copo de Viciante, “o nome do vinho diz tudo”, acrescenta Tânia Cardoso, que costuma ser a mão por trás dos pecados que se saem da cozinha.
“Alheira vende muito bem”, diz Anabela Vieira. Mistas grelhadas e chouriças assadas também estão entre os preferidos dos clientes na “Fumeiros Casa de Lamego”, que destaca, num quadro, o “Viagra dos Pobres”, uma chouriça picante, por oito euros pronta a comer no local, que precisa de acompanhamento líquido generoso.
Casa fundada em 1977, é presença assídua na Agrival todos os anos, num roteiro com passagem por várias feiras do país e da Europa. Ainda com o Algarve na mente, de Penafiel seguem para Itália, França ou Espanha. “Os emigrantes portugueses, claro, procuram-nos muito”, diz Tânia. “Mas os estrangeiros também sabem o que é bom”, acrescenta Anabela.
A casa, há 47 anos em Portugal e no Mundo, convive com outras tentações da carne, como o leitão, mais enchidos e fumados, num dos cantos do pavilhão principal da Agrival. Em frente, “São Frutas”, secas, e “São Doces”, mas bem perto, para aplacar a fome ou dar asas à gula, convivem dez restaurantes que fazem uma volta a Portugal em gastronomia, com opções de Trás os Montes ao Algarve.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, também cedeu ao chamamento da Agrival, que este ano parece estar mais "apetitosa" e juntou líderes partidários ao mais alto nível: Pedro Nuno Santos (PS), André Ventura (CH) e Mariana Mortágua (BE).
O PCP fez-se representar por João Oliveira, que foi cabeça de lista às eleições europeias. Para fechar, domingo está prevista a presença de Nuno Melo, ministro da Defesa Nacional eleito pela AD, mas de visita como presidene do CDS-PP. A nível da Aliança no poder, a Agrival captou, ainda, a presença do ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, e do secretáro de Estado, João Moura.