Não há previsão para fim das obras para reparar coletor que aluiu em dezembro e lojistas temem pelos negócios.
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Na Rua da Prata, no centro de Lisboa, em tempos muito movimentada, o cenário é desolador. Já fecharam 17 lojas, nos últimos anos, depois dos prédios serem vendidos e os lojistas despejados ou por causa da pandemia, e não se preveem melhorias.
Os resistentes trabalham atrás de tapumes de obras, que começaram há dois meses, depois de um coletor de drenagem ter colapsado após as cheias de dezembro de 2022. Não há previsão para a conclusão da empreitada e os lojistas temem prejudicar mais os negócios.
A Gil Oculista tem menos movimento desde que está escondida por tapumes. "As pessoas que passam por aqui vêm as obras e pensam que já não há nada e não vêm à loja", diz Fernando Miguel, um dos sócios da ótica centenária, que tem de fechar a porta da loja para conseguir ouvir os clientes por causa do ruído das obras. A incerteza da duração da intervenção é o que mais o preocupa. "Há uma grande falta de informação da Câmara de Lisboa, que não nos dá respostas concretas quanto à conclusão da obra", lamenta.
Fernando Miguel queixa-se ainda da "pouca movimentação" na empreitada, quando esta tem caráter urgente. "A dinâmica da obra é lenta. Há dias que não vemos ninguém e à sexta só trabalham até à hora de almoço", critica. Cristina Santos, funcionária de uma loja de malas aberta desde 1942, sente o mesmo. "Não se vê muita gente nas obras, vêm de vez em quando tirar areia", diz. A comerciante explica que os primeiros meses do ano são sempre "fracos", mas "a rua fechada agrava o negócio". "Nota-se menos gente e turistas a passarem aqui".
Carlos Manuel, dono do Quiosque Tivoli, fundado em 1935, também vê menos pessoas na rua e lamenta não existir data para o fim das obras. "Primeiro falaram em dois meses e depois em cinco, não sabemos de nada.
Nesta rua, já fecharam várias lojas, nos últimos anos, e os lojistas têm receio que encerrem mais", diz. Pedro Correia, dono do restaurante Caneca de Prata, há 35 anos na rua, espera que "as obras sejam breves". "Há dias que não passa aqui ninguém. Lentamente, a rua já está a morrer. Fecham várias lojas e as que abrem não ficam muito tempo", frisa.
"Dois anos de obras"
Trabalhadores ouvidos pelo JN acreditam que a empreitada possa "demorar um a dois anos". "Isto é uma obra muito complicada. Ainda vamos esburacar o resto da rua até lá abaixo, mais 92 metros", disse um funcionário.
A Câmara de Lisboa não avança qual a duração da empreitada, mas diz que "está empenhada em reduzir o prazo de execução e minimizar os constrangimentos que dela advêm". O município sublinha "o caráter complexo da intervenção, que implica uma série de estudos e sondagens que exigem rigor" e diz que "os trabalhos são ininterruptos, mesmo que por vezes não sejam percetíveis ou nítidos à superfície".
A Autarquia diz ainda que "as obras decorreram do colapso, numa extensão de cerca de 40 metros, de um coletor pombalino de elevado valor patrimonial [a Baixa Pombalina está classificada como Conjunto de Interesse Público] e de uma dimensão grande de danos, a solução técnica de reparação é complexa e está a ser acompanhada por uma equipa especializada do LNEC", explica.