Locomotiva a vapor que está em Gaia vai ser colocada numa rotunda na Guarda
Uma das seis locomotivas a vapor que estão atualmente na estação das Devesas, em Gaia, será transportada na madrugada de sábado para a Guarda, disse, esta terça-feira, fonte da CP - Comboios de Portugal à Lusa. A locomotiva é de 1913 e será colocada numa rotunda. A autarquia gaiense diz tratar-se de "património nacional" e que "as despesas de preservação devem ser assumidas pela CP".
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"Está prevista a movimentação da locomotiva CP 294 na madrugada do próximo dia 12 de novembro de 2022 [sábado]", disse fonte oficial da CP , referindo-se à locomotiva que irá para a Guarda, "de acordo com um protocolo entre a FMNF [Fundação Museu Nacional Ferroviário] e a autarquia dessa cidade, onde irá ser restaurada e colocada numa rotunda".
Segundo a CP, a operação de movimentação da locomotiva "será feita durante a noite com interrupção da linha geral na estação de Vila Nova de Gaia para que a locomotiva 294 e o 'tender' [vagão-reboque] sejam rebocados, acompanhados pela equipa dos Comboios Históricos da CP para a linha de estaleiro da DST", empreiteiro das obras que atualmente decorrem no local.
"Nesta linha será carregada para camiões que a transportarão até à Guarda", adiantou a CP.
Segundo a transportadora, atualmente estão nas Devesas seis locomotivas a vapor do início do século XX: a 072, com o peso de 84,3 toneladas (ton), fabricada pela empresa suíça Winterthur, em 1916, a 0184 (98,0 ton, fabricada pela Henschel, em 1924), a 0190 (98,0 ton, da Henschel, de 1924), a 282 (63,395 ton, da Henschel, de 1910), a 294 (64,345 ton, Henschel, de 1913) e a 701 (65,500 ton, da Schwartzkopff, de 1912).
"Estas locomotivas deixaram de operar em meados da década de 70 e estão parqueadas em Gaia desde o início da década de 90" do século passado.
Segundo a CP, o Museu Nacional Ferroviário, sediado no Entroncamento (distrito de Santarém), "manifestou inicialmente interesse em três destas locomotivas", tendo selecionado "apenas uma", a 294, para ir para a Guarda.
"A deslocação das restantes locomotivas para outro local encontra-se em avaliação, não tendo ainda sido tomada uma decisão", segundo a CP, que também adiantou que, "neste momento, não está prevista a alocação de outras locomotivas a outros espaços".
A transportadora disse ainda que "duas destas locomotivas estão a ser utilizadas para aproveitamento de peças para a manutenção da locomotiva do comboio Histórico do Douro".
Questionada sobre se algumas das locomotivas têm danos irreversíveis, a CP respondeu que "infelizmente as locomotivas em causa estão abandonadas há cerca de 50 anos, sem que tenham tido qualquer tipo de intervenção quanto à manutenção do seu estado de conservação".
"Por isso, o restauro não é viável para a recolocação em condições de circulação, uma vez que implicaria custos idênticos ou superiores a uma locomotiva nova. No entanto, todas elas poderão ser restauradas para fins estáticos e expositivos, mesmo replicando algumas peças em falta", conclui.
Câmara de Gaia remete para a CP
A Câmara de Gaia rejeitou que a permanência das locomotivas a vapor na estação das Devesas seja "uma questão gaiense", entendendo que a preservação do património ferroviário cabe à CP - Comboios de Portugal.
"Não fazemos disto uma questão gaiense, porque não temos museu do comboio e acreditamos que este é um património nacional e não local", pode ler-se na resposta enviada pela autarquia às questões da Lusa.
De acordo com a autarquia liderada por Eduardo Vítor Rodrigues (PS), "o município entende que as locomotivas a vapor depositadas na estação das Devesas têm valor patrimonial", mas com "valor museológico nacional, devendo ser atentamente assumidos como foco da intervenção da CP".
"Por isso, entendemos que a opção e as despesas decorrentes dessa preservação devem ser assumidas pela CP, preservando uma memória coletiva nacional", disse fonte da Câmara.
Anteriormente, em outubro de 2012, o executivo municipal liderado na altura por Luís Filipe Menezes (PSD) chegou a defender a manutenção de parte das locomotivas em Gaia, bem como a criação de um espaço museológico no local.
O então vereador do PS, e hoje presidente da Câmara, lembrava a importância "do ponto de vista patrimonial" das locomotivas "originais", propondo a manutenção das mesmas na estação de Gaia, tornando "aquele num espaço museológico".
Também o vice-presidente da autarquia, o hoje deputado do PSD Firmino Pereira, considerou que aquele património deveria "ser salvaguardado e se possível mantido em Gaia, nomeadamente numa das estações de referência que é a das Devesas".
Questionada pela Lusa acerca das atuais obras a decorrer na estação das Devesas, a Infraestruturas de Portugal esclareceu que a empreitada não inclui "as linhas onde se encontram estacionadas as locomotivas a vapor, pelo que não interferem com a boa execução da obra e não se torna necessária a sua relocalização".