Iniciativa da Docapesca quer mitigar dificuldades de carenciados, agravadas devido à pandemia. Ações do Norte ao Sul já entregaram oito toneladas.
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Idalina Teixeira teve de controlar as lágrimas, sexta-feira, quando recebeu cerca de quatro quilos de carapau fresco, oferecidos pela Docapesca - Portos e Lotas, no âmbito de uma iniciativa que pretende ajudar famílias carenciadas que viram as suas dificuldades agravadas devido à covid-19. "É uma ajuda muito boa, temos passado muitas necessidades", desabafa a idosa de 78 anos, à porta de casa, em Cancelas, Ílhavo. Ao lado, o filho, Gabriel Morgado, explica que, por falta de recursos, tinham deixado de comer peixe, pois "é caro".
Também a família de Dinis Monteiro teve a oferta de peixe e mal conteve a felicidade. O ritual repete-se a cada entrega. Sete casais e 18 crianças daquela família cigana de Presa, Ílhavo, reúnem-se para receberem entre quatro a cinco quilos de peixe e comerem juntos. "Quando chega, almoçamos peixe. Partilhamos entre todos o que recebemos", explica Dinis Monteiro, sublinhando que, devido à pandemia, a família tem dificuldades em conseguir "trabalho e acesso a alimentos". "Se não fosse esta iniciativa, só comíamos carne, que é mais barata", conta. Dinis Monteiro diz, ainda, que, quando soube que a empresa ia dar pescado, sentiu um alívio. "Com o vírus, a vida tornou-se mais difícil e temos muitas crianças", desabafa.
Aquelas são duas das 15 famílias que são ajudadas em Ílhavo mas, por todo o país, há milhares de pessoas que podem ter peixe na mesa e equilibrar as refeições graças à ação da Docapesca.
Até ao final do ano
Desde que a iniciativa começou, há três meses, já foram entregues oito toneladas de pescado do Norte ao Sul. A ideia é prolongar a ajuda até ao final do ano.
Cada uma das 13 lotas envolvidas na iniciativa dá, semanalmente, 100 quilos de peixe a juntas de freguesia e instituições, que o distribuem depois por famílias sinalizadas devido à sua fragilidade económica.
O pescado doado é selecionado entre as espécies mais abundantes que vão à lota, geralmente "carapau, sardinha e faneca", explica Vítor Ruas, diretor dos portos da Docapesca de Aveiro e Figueira da Foz. Segundo o responsável, a empresa não podia ficar indiferente à situação que se vive no país, daí ter pedido a colaboração das juntas de freguesia para "chegar às pessoas que mais precisam".
Em São Salvador, Ílhavo, "a junta ajuda como pode", explica o presidente, João Campolargo. "Percebemos que as famílias carenciadas enfrentam tempos ainda mais difíceis e não é fácil manter uma alimentação saudável", acrescenta o autarca. A oferta de pescado, refere João Campolargo, "veio dar resposta a uma necessidade urgente".
O peixe doado é capturado exclusivamente por embarcações nacionais em águas portuguesas.
Gabriel Morgado
Morador em Ílhavo
"Com a covid-19 passamos mais dificuldades e deixamos de comer peixe, porque é caro. Esta iniciativa foi um balão de oxigénio para ajudar a minha família e outras que precisam"
João Campolargo
Pres. Junta S. Salvador
"Esta iniciativa veio dar resposta a uma necessidade urgente. Todas as sextas-feiras vamos buscar 20 quilos de peixe à lota da Gafanha da Nazaré, para entregar. Estamos a apoiar 15 famílias"
Dinis Monteiro
Morador em Ílhavo
"A covid-19 afetou muito a minha família, de etnia cigana. Temos 18 crianças na família, que antes comiam na escola e agora estão em casa e precisam de se alimentar bem"
Por todo o país
"O peixe é comprado em 13 lotas, do Norte ao Sul. Cada lota entrega 100 quilos por semana para "apoiar famílias carenciadas", diz Vítor Ruas, diretor dos portos da Docapesca em Aveiro e Figueira da Foz.