Luísa Salgueiro concorre a um terceiro e último mandato continuando a apostar na habitação. Na área da mobilidade, a candidata socialista e presidente da Câmara de Matosinhos, defende a extensão da linha do metro até Leça da Palmeira, o que obriga a construção de uma nova travessia sobre o rio Leça.
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Ao apresentar a sua candidatura à Câmara de Matosinhos, disse que tinha o objetivo de ganhar a Câmara, a Assembleia Municipal e todas as juntas de freguesia. É um objetivo realista?
Sim, o PS apresenta-se como candidatos com um perfil e competências próprias, todos com condições para virem a ser os próximos presidentes da Junta de Freguesia. Foi nessa perspectiva que foram eleitos.
Concorre a pensar em reforçar ainda mais a maioria, a maioria absolutíssima?
Não. Concorro com a humildade de compreender que as maiorias se conquistam em cada mandato, que também houve uma alteração significativa na própria comunidade matosinhense e que para garantir uma maioria idêntica há quatro anos, o PS precisa de trabalhar muito para merecer novamente a confiança dos matosinhenses. Nada está garantido. Parto com a mesma humildade de há oito anos.
Na apresentação da sua candidatura falou do problema da habitação. E enumerou um total de 2190 fogos que estão em andamento. É um número que resolve os problemas de carência habitacional ou é preciso ir mais além?
É a habitação social, a renda apoiada, o programa municipal de apoio ao arrendamento, 11 áreas de reabilitação urbana e numerei, até política fiscal. Os problemas de habitação em Matosinhos, não passam apenas por gestões de habitação social, passam por garantir que a classe média também tenha condições para suportar os encargos de uma habitação. A reabilitação urbana tem sido uma das estratégias que temos adotado. Por isso, criámos as zonas de pressão urbanística, onde agravámos as condições de quem tem fogos devolutos. E criamos um regime especial para áreas de reabilitação urbana, com incentivos fiscais. Também aplicamos a taxa de IMI mais baixa do país para a maioria dos imóveis transacionados em Matosinhos. Portanto, temos um conjunto de soluções que visam diminuir o problema do acesso à habitação em Matosinhos. Mas não é suficiente. Esperamos que depois do PRR haja novamente financiamento para podermos continuar a construir a habitação e precisamos que haja finalmente mecanismos de enquadramento financeiro e jurídico para que as cooperativas possam voltar a ser um parceiro importante na resposta às necessidades de habitação. Matosinhos está disponível para ser o teste, o piloto, para arrancar. Não é apenas, deixamos de usar o conceito da habitação e passamos a usar o conceito do habitar. Temos de construir casas onde haja equipamento, onde haja transporte, onde haja qualidade de vida para não termos depois de infraestruturar as novas áreas. Portanto, estamos a criar um conceito de habitar. Precisamos de construir mais casas, precisamos de alavancar o movimento cooperativo, precisamos de encontrar todas as respostas que existem no quadro jurídico nacional. Queremos ser um concelho atrativo mas isso não pode impedir ou dificultar o acesso à habitação para os que são de cá.
Outra questão que também abordou e que fará parte da campanha tem a ver com a mobilidade. Já desenvolveu a linha de Leixões e está a avançarcom o o metrobus. O que falta?
Em termos de mobilidade, tivemos ações estruturantes importantes, umas já visíveis, outras em desenvolvimento. Quer no que diz respeito ao investimento do próprio município, por exemplo com a construção do viaduto Vitor Oliveira, que prevê a construção de um novo acesso da A28 à rua Eduardo Torres. Foi aprovado há pouco tempo. Portanto, nós agora vamos executá-lo com o Orçamento Municipal. Mas também precisamos da execução da linha do metro da Senhora Hora ao Hospital de São João, que é a linha de S. Mamede de Infesta, que está em execução de projeto.
Reativamos a linha de passageiros de Leixões desde o Hospital de São João até Leça do Balio. Está prevista continuar até Leixões, onde terá um interface com o metro e com o transporte rodoviário. E agora, penso que temos condições para demonstrar que é imprescindível a extensão da linha de metro para a Leça da Palmeira.
Porque com a transformação da refinaria, com o desenvolvimento das áreas da antiga Jomar, da antiga Tertir ou Exponor, o cenário de procura vai alterar-se significativamente. Não é possível continuarmos a pensar nestes investimentos sem criar novas ligações entre Matosinhos e Leça da Palmeira. Precisámos de uma linha de metro, mas sabemos, o tabuleiro da A28 não comporta tecnicamente.
Daí defender uma nova travessia?
O tabuleiro da A28 já foi alargado e já está na capacidade máxima em termos de carga. Portanto, temos de ter uma nova travessia entre Matosinhos e Leça da Palmeira. Há várias abordagens, ou à cota inferior ou à cota superior.
Seria em túnel?
Do túnel, do que nós fomos estudando, o que estava pensado era começar na Praça Guilhermina Suggia e sair junto à Exponor mas não é suficiente, por causa do Porto de Leixões, teria que uma cota, uma inclinação muito acentuada. Portanto, tem de começar muito antes e estender-se mais. Não há estudos ainda para isso. Mas isto não pode ser uma obra do Município. Nós precisamos, que o Governo e a APDL sejam parceiros. Não será num próximo mandato que a ligação estará pronta. Mas é preciso começarmos a trabalhar nisso para que possa haver a extensão da linha de metro para Leça da Palmeira.
A solução mais viável seria a de um viaduto?
Isso é uma questão técnica. Não digo qual era a minha preferência, porque não se trata de gostos pessoais, mas sim de soluções técnicas que têm de ser estudadas. Enquanto isto, Matosinhos beneficiou de um apoio do Fundo de Transição Justa da Comissão Europeia de 60 milhões de euros para compensar o encerramento da refinaria. Desses 60 milhões, nós atribuímos 23 milhões, 24 milhões para a construção de uma linha que permitisse dar mobilidade àquela zona, porque na área da refinaria não existe nada. Portanto, propusemos uma linha do BRT, um metrobus para ligar o aeroporto, Perafita, Leça da Palmeira e Matosinhos. Outra parte dessa verba será para a construção do primeiro polo do campus universitário na refinaria. Por outro lado, é preciso reforçar a oferta de transporte público.
Outra questão que tem sido falada é a questão ambiental. Tem falado no exutor da Ribeira de Riguinha. Isso vai resolver o problema ou atirar a jusante?
Temos um problema na Praia de Matosinhos que é antigo, mas que tem ganho expressão por causa do número de análises que são feitas. Agora há três análises por semana e o que não se media não se conhecia. E, por outro lado, os indicadores têm vindo a tornar mais frequente essas situações. Isto é um tema que passa muito por informação técnica. Temos a Faculdade de Engenharia contratada, temos várias entidades que estão a trabalhar connosco, porque ali convergem vários fatores. Por um lado, a poluição do Rio Leça, o Rio Douro, a praia e a Ribeira da Riguinha.
Nenhuma entidade nos diz qual é a causa da situação da praia. O que nós sabemos é que a Ribeira da Riguinha tem vindo a sofrer muito investimento, estamos a monitorizar e identificar todas as ligações ilícitas que estão a ser feitas das águas residuais às águas pluviais. E há muito a intenção de construir um exutor.
O exutor que estava previsto era de 150 metros. Mas os estudos das entidades especializadas que, entretanto, se dedicaram ao assunto apontam para a necessidade de construir um exutor de 550 metros e, portanto, não foi lançado o concurso.
Mas isso não acaba com a poluição?
Temos pessoas a estudar isto do ponto de vista das marés, porque, a partir de uma determinada distância, também do efeito que as próprias marés trazem, faz desaparecer esse risco. Não estamos a afastar o risco, estamos a eliminar o risco.
Uma coisa que lhe tem sido apontada é falhar no básico, na questão dos pavimentos, dos passeios, do lixo. Quando falou nessa questão, na apresentação da sua candidatura, dizendo que é preciso melhorar os passeios, estava a admitir esse erro?
Estou na Câmara há alguns anos e, há algum tempo, as pessoas reivindicavam muitos novos equipamentos, grandes investimentos isso hoje não acontece, fruto do investimento que foi-se fazendo ao longo dos anos e do apetrechamento do concelho. Hoje em dia, as pessoas reivindicam sobretudo pequenas intervenções, a malha mais fina, o estado dos passeios, dos pavimentos das vias, o parque das árvores e problemas ao nível do contrato de recolha de resíduos. Por um lado, significa que nós em áreas que habitualmente geram menos satisfação, como área social, área da educação, área da cultura, área da economia, apoio às empresas, não temos questões que sejam relevantes para as pessoas apontarem. Para uma cidade com a nossa dimensão, creio que estamos num ponto de resposta muito elevado quando os problemas que nos chegam são os estados de pavimento. Há um grande plano de investimentos em execução em termos de via pública e pavimentos.
O que é que as pessoas podem esperar de um terceiro e último mandato?
Podem esperar que continuemos a responder desde os assuntos mais estruturais, como são a mobilidade, que referi, até a resposta ao cidadão anónimo que não tem voz. A minha presidência não é só para responder aos grandes parceiros e aos grandes atores da comunidade, mas também ao cidadão, ao idoso que está isolado em casa e para quem criamos uma bolsa de cuidadores, até ao fazer as novas linhas de metro e preparar o TGV que vai ser no próximo mandato vai atravessar o concelho. As pessoas podem esperar uma Câmara atenta, reivindicativa e liderante. E podem esperar que prossigamos as políticas de habitação, quer construindo, quer estimulando, que sejam garantidas novas respostas na área da mobilidade, a instalação finalmente de videovigilância em zonas onde há alguns fatores de maior preocupação, Matosinhos Sul e Senhora da Hora, entre a Estação das Sete Bicas e o NorteShopping. Se for necessário, alargaremos a outras áreas. Em cada uma das dez freguesias, temos objetivos e investimentos e ações concretas a realizar, porque percebemos que devem ser tratadas coerentemente com o resto do território, mas também com respeito pela identidade e pelas necessidades de cada uma.