Lusiaves suspende quatro trabalhadores após denúncia de violência em explorações avícolas
A organização Frente Animal divulgou imagens que mostram maus-tratos e violência contra animais, que terão sido captadas numa exploração avícola da Lusiaves, detentora do certificado Welfair, que indica ao consumidor que os animais vivem em condições eticamente responsáveis de bem-estar.
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A empresa já suspendeu quatro trabalhadores e garante que se tratou de um episódio isolado, revelando que apos a denúncia recebeu vistorias surpresa, mas não foram detetados incumprimento das normas de bem-estar.
As imagens, diz Joana Machado, cofundadora da Frente Animal, foram gravadas de forma anónima em novembro do ano passado numa quinta do Grupo Lusiaves, na Figueira da Foz, Coimbra, e enviadas a uma ONG espanhola, que as reencaminhou à organização portuguesa. São chocantes e mostram “trabalhadores a agredir os animais, alguns até à morte. Os que tiveram o azar de sobreviver foram abandonados com ferimentos extremamente graves, incluindo feridas abertas, asas partidas e órgãos expostos, encontrados num estado de semicoma, prostrados e a tremer, misturados no chão, com os restantes cadáveres. Deixados para trás, sem água nem comida, dezenas deles após serem atropelados deliberadamente por empilhadores, estes animais foram encontrados a morrer lentamente e em agonia”, descreve a organização em comunicado.
As situações expostas, acrescenta Joana Machado, são “extremamente graves e até ilegais”, porque as “normas e legislação definem que o animal deve ser abatido da forma mais rápida possível para evitar que passe por todo este sofrimento e o que vemos é o oposto”. A Frente Animal enviou queixa sobre esta e outras situações à ASAE, DGAV - Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e AENOR, a entidade que terá certificado as quintas. Joana Machado diz que também tentaram falar com a empresa, mas não obtiveram “resposta”, tendo partido então para a divulgação pública das imagens.
Empresa abriu inquérito
Contactada, a Lusiaves refere que nem todas as imagens correspondem à Quinta de Matinhos ou outras explorações do grupo e adianta que abriu um inquérito. Entretanto, quatro trabalhadores foram alvo de processos disciplinares e suspensos de funções.
A “ficar provada a ocorrência de algum facto que seja contrário ao bem-estar animal”, tal será “um episódio isolado e imputável” a pessoas que atuaram “à revelia da empresa e contra as suas orientações”, garante a Lusiaves em comunicado. A empresa adianta, ainda, que depois das imagens terem sido tornadas públicas, as instalações do grupo foram “objeto e inúmeras auditorias surpresa, por parte de entidades públicas competentes e das entidades certificadoras, as quais não detetaram qualquer incumprimento das normas de bem-estar animal”.
A Frente Animal, que diz ter recebido mensagens de pessoas “indignadas” e até denúncias de “novas situações” em explorações avícolas após divulgar as imagens, pede uma “investigação aprofundada” sobre os métodos de produção em Portugal e o impacto que estes têm na vida dos animais e dos consumidores.