Há um campeonato que começou com 16 animais de mais de mil quilos e transferências de milhares de euros.
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As chegas de bois de Montalegre não têm nada a ver com futebol, mas apenas dois machos às cornadas conseguem despertar "mais interesse" que 22 homens a disputar uma bola, garante Nuno Duarte, presidente da Associação Etnográfica O Boi do Povo. Há, até, um campeonato e um mercado de transferências, que, mesmo sem atingir os valores dos craques dos relvados, envolvem vários milhares de euros.
Nuno Duarte diz que "há quem tenha dado seis mil euros por um boi bom nas chegas, dos que quase nunca perdem". Mas, por norma, os preços variam entre "dois mil e três mil euros". O investimento é recuperado se a época correr bem. É quase como na Liga dos Campeões de futebol. Um boi pode arrecadar perto de três mil euros se vencer o torneio ou ficar-se pelos 500 se for eliminado na primeira fase.
Foi o que aconteceu a Horácio Santos. Não admira que ande zangado com o "Gigante", o boi que de gigante só tem o nome, mesmo que pese à volta de 1100 quilos. Investiu bastante na compra "porque disseram que era bô", ao ponto de ter anunciado a toda a gente que "ia chegar à final". Vai-se a ver, "perdeu logo à primeira".
Não há de tardar a ser despachado, pois "não quer mesmo lutar". Horácio tem lá mais dois "que estão a começar a ficar bons". Vai deixar de comprar bois para as chegas e começar a criá-los desde pequenos. Por volta dos cinco anos de idade estão no pico da forma para combater. Se tiverem sorte, a carreira vai até aos 10. Se não, seguem o destino do talho como os outros animais da raça.
Um vício
Ao contrário de Horácio, a prova tem corrido bem a José Ferreira, mais conhecido por Ladeiras. Vive em Salto, aonde regressou reformado depois de 29 anos em Lisboa. Há três anos comprou o boi "Barroso", já ganhou o campeonato por duas vezes e neste vai bem lançado. "Isto é um vício. A gente está no café e todas as conversas andam à volta das chegas". Ladeiras só tem o "Barroso", mas António Teixeira, também de Salto, tem 10 animais de competição. "Há quem tenha carros, eu tenho bois", sorri, apesar de ser "um vício caro", já que tratar bem tantos animais "é dispendioso". Este ano fez a escolha errada para a primeira chega. "O ano passado fui à final e desta vez o "Marelo" ficou logo de fora", lamenta.
Apesar da competição e de todos quererem ganhar o torneio, há sã convivência entre os criadores.
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Competição
O Campeonato de Chegas de Bois de Raça Barrosã começou em Montalegre a 25 de abril e culmina no dia 8 de agosto. É organizado pela Associação Etnográfica O Boi do Povo, com o apoio da Câmara Municipal.
Calendário
Desde 25 de abril já se realizaram oito chegas. Foram apurados oito bois para os quartos de final que se disputam a 10 e 16 de junho. As meias-finais estão agendadas para 14 de julho e a final para 8 de agosto.