
Ontem de manhã, na lota, um quilo custava 53 cêntimos e, no mercado, quatro euros. No prato, por 12,5 euros, comia-se dez sardinhas
André Rolo / Global Imagens
Há muito peixe no mar, mas em Matosinhos o preço tem estado abaixo do ano passado. Valores devem subir para a noitada.
"É macaquinha, mas é boa!", atira Elisabete Postiga, sorrindo. Ali, no porto de Matosinhos, chamam assim à sardinha que é grande para petinga, mas pequena para ser a "gordinha a pingar no pão" que se quer para as brasas no São João. Ontem de manhã, na lota, um quilo custava 53 cêntimos, no mercado quatro euros, no prato, por 12,5 euros, comia-se dez. No fim de semana passado, no Senhor de Matosinhos, foi vendida a um euro cada. No São João, o preço não deve andar longe, mas é quase toda vinda de Peniche, que a norte "só há peixe curto e vendido a cêntimos".
"Está mau para o pescador... Na semana passada trabalhámos cinco dias para levar para casa 70 euros", lamenta Fernando Caetano. Tem 56 anos, 43 de mar e, por estes dias, anda a bordo do "Mar Branco" na pesca da sardinha. Não tem memória de ano tão fraco. A safra começou a 2 de maio, o junho já vai a meio, o São João está à porta e a sardinha continua "miudinha". Resta-lhes "vender para a conserva". O "Mar Branco" tem vendido à Ramirez. Os preços andam entre os 50 e os 70 cêntimos por quilo. Não chega para pagar as despesas e alimentar os 14 pescadores que trabalham no barco.
Muitos rumaram a Peniche. Dos quase 30 barcos da sardinha que habitualmente pescam em Matosinhos, por estes dias não andam lá mais de dez.
O "Mar Branco" foi dos que ficaram. "Se vamos todos para Peniche, o preço cai e ainda é pior", atira Fernando, conformado. Mas, mesmo em Peniche, exceção para o 9 de junho, os preços têm rondado 1,5 euros. Neste ano, há mais quota para pescar e, com mais fartura, o preço é mais baixo.
Ali ao lado, a tripulação do "Rumo à Lua" tira a rede do guincho. O trabalho é duro, feito à força de braços, por mais de uma dezena de homens, que acabam de chegar depois de uma noite inteira no mar. "Partimos a rede em dois lados, chegamos a terra vendemos a sardinha a 13 euros o cabaz (58 cêntimos o quilo). É ganhar para as despesas", queixa-se o mestre, Renato Braga.
Resta-lhe a consolação de que, com a abundância que tem havido, os dias têm sido bons para quem compra.
No mercado de venda ao público, à entrada da lota, a 100 metros do cais das descargas, Adelaide Gaiteiro compra da gorda, vinda de Peniche. "Está muito boa, que ainda ontem comi assadas", explica. Veio buscar mais 50. Agora, vai congelá-las em água do mar, num garrafão de água vazio - como aprendeu com os pescadores - e guardar para a noite de São João. "Comprei-as a quatro euros. Na véspera de São João vai ser três vezes mais e, às vezes, nem assim há", conta.
Ali não falta escolha: há a "macaquinha" e a de Peniche. Os preços oscilam entre os 4 e os 4,5 euros, mas Sónia Trocado, que já leva ali quase 30 anos a vender peixe, avisa: "Para a semana, vai para cima de dez euros".
preços variam
Nos restaurantes, o preço varia e muito. N"O Malcriado, na Avenida de Serpa Pinto, a 200 metros, há doses a 9,5 euros, que incluem cinco sardinhas, batata a murro e pimentos. "Se não aumentarem à sardinha, vou manter os preços na noite de São João. Até acho que a sardinha tem andado mais barata este ano", explica José Costa. Há dois anos decidiu ficar com o restaurante, que abriu portas em 1947 e já serviu quase tudo o que é gente famosa. O negócio é familiar, a casa pequena e típica. Ainda assim, no ano passado, na noite de S. João, venderam-se ali mais de 250 quilos de sardinha e o assador não parou das seis da tarde às três da manhã.
Pequena, mas saborosa
Mais abaixo, no cruzamento com a Rua Sul, O Rei da Sardinha Assada vende dez sardinhas a 12,5 euros, mas só a batata cozida está incluída. Pimentos e salada são à parte. N"O Malcriado a sardinha vem de Peniche, n"O Rei da Sardinha Assada é de Matosinhos. "Uma é maior e mais gorda. A outra mais pequena, mas mais saborosa", dizem os pescadores. O preço não anda alto, mas deve subir. Uma coisa já é certa: sardinha não vai faltar.
PREVISÃO
A "loucura" dos 19,50 euros o quilo não deve repetir-se
Com a sardinha pequena e a ser vendida entre os 50 e os 70 cêntimos em Matosinhos, muitos barcos têm rumado a Peniche, onde o peixe está maior e com preços mais altos. A Propeixe, que agrega 26 barcos da pesca do cerco, já tem mais de metade da frota a sul. Ainda assim, mesmo em Peniche, o preço tem variado entre um euro e 1,5 euros. A exceção foi a 9 de junho. Com o feriado do Corpo de Deus, o Santo António à porta e os barcos de Matosinhos, da Póvoa e de Vila do Conde a aproveitarem para um fim de semana prolongado, só meia dúzia de barcos de Peniche foram ao mar. Na lota, o cabaz chegou aos 440 euros (19,50 euros o quilo), ou seja, dez vezes mais que os 30 a 50 euros por cabaz a que chegou, em 2022, nas vésperas dos santos populares. Por ali, ninguém acredita que a "loucura" venha a repetir-se.
FESTA
Marchas em Gaia
As marchas de S. João voltam a sair à rua hoje em Vila Nova de Gaia, pelas 21 horas. O desfile vai percorre as avenidas Diogo Leite e Ramos Pinto até ao Cais de Gaia. O espetáculo, que junta instituições que representam nove freguesias, vai ser precedido da entrega de prémios do ano passado. A vencedora foi a Tuna Musical de Santa Marinha.
Pirotecnia na ponte
Só o tabuleiro superior da Ponte Luís I vai ter fogo de artifício na noite de São João. O espetáculo pirotécnico na Ribeira, que terá a duração de 16 minutos, é um investimento conjunto das câmaras do Porto e de Gaia. "Não serão colocadas [no tabuleiro inferior] quaisquer estruturas de iluminação e fogo, de forma a facilitar a abertura e circulação de pessoas antes e depois do espetáculo pirotécnico", informaram as autarquias.
