Maria José e Alexandra Torres, mãe e filha, com 74 e 46 anos, vivem atormentadas com um ginásio que há 12 anos se instalou no primeiro piso de uma galeria comercial na vila de Caminha, por cima da loja de que são proprietárias. Queixam-se do ruído constante, principalmente o provocado pelo impacto de halteres a cair no chão.
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O caso está nos tribunais e as queixosas afirmam que a situação as afeta ao ponto de estarem a ser seguidas em Psiquiatria e medicadas para a ansiedade, depressão e taquicardias.
Além do ginásio, cujos proprietários não se mostraram disponíveis para prestar declarações ao JN, as queixas das proprietárias estendem-se à Câmara Municipal de Caminha, como entidade licenciadora do espaço. "Está a favorecer quem não está a cumprir o Regulamento Geral do Ruído", consideram.
Em resposta a questões enviadas por escrito pelo JN, a autarquia liderada por Rui Lages refutou acusações de "favorecimento" a uma das partes envolvidas no processo, e remeteu o assunto para a esfera judicial. "A Câmara Municipal de Caminha não comenta casos que se encontram nas mãos da justiça, aguardando serenamente o resultado do que o tribunal vier a decretar", respondeu.
Situação "humanamente insuportável"
"Estimado cliente, lamentamos profundamente ter encerrado hoje mais cedo do que o habitual, pois a isso fomos forçados, não aguentando, nem nós, nem os clientes, os estrondos dos exercícios com halteres sentidos no interior da nossa loja", escrevem as proprietárias da loja de utilidades domésticas e artigos de decoração, Xanilar, num aviso que têm preparado para colocar na porta sempre que encerram fora do horário. No mesmo, pedem desculpa à clientela e informam que "têm procurado sempre a resolução desta situação humanamente insuportável", e que a atividade será retomada "sempre que for tolerável estar no interior da loja".
Aquele estabelecimento abriu em 1983, no edifício do centro comercial construído em 1982. "Antes, tivemos um restaurante [a funcionar por cima] e nunca houve problemas ", conta Maria José, lembrando que o restaurante acabou por encerrar e o espaço foi remodelado para acolher o ginásio, que entrou em funcionamento em 2009.
São 12 anos de tortura. Isto tornou-se um tormento. Uma obsessão
"Logo na primeira semana falamos com os donos. Avisamos para o problema. Naquela altura as nossas cabeças ainda estavam frescas. Agora já não dá mais para aguentar", afirma Alexandra, mostrando caixas de medicação e dossiês com resmas de documentos, ofícios, cartas, fotografias ilustrativas de danos causados pela atividade do ginásio (rachaduras e humidade resultante do jacuzzi e banho turco que chegaram a funcionar), a par de relatórios de avaliações acústicas do espaço e psiquiátricas das duas proprietárias. "São 12 anos de tortura. Isto tornou-se um tormento. Uma obsessão", desabafa Maria José.