Não há creche para os bebés de Vimioso, no distrito de Bragança, um dos primeiros concelhos do país a instituir incentivos à natalidade.
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Até 2016, contabilizam-se 415 bebés. Todos tiveram direito a um prémio de mil euros e vacinas grátis, mas dos 26 que nasceram no ano passado, apenas 16 têm vagas nas quatro amas da Segurança Social. A falta de creche (a que existia, o Jardim do Papagaio, fechou há cerca de dois anos, por problemas financeiros), obriga os pais a multiplicarem-se em soluções que passam pela colaboração de familiares, amigos e até dos patrões. Mónica Pereira, 29 anos, tem uma menina de cinco meses e, por falta de alternativa, tem que levá-la consigo para o supermercado onde trabalha. "A minha patroa disse-me para trazer a bebé, que entre todos tomaríamos conta dela", explica.
A falta de amas obriga Mónica a isso. A bebé, Leonor, fica no trabalho praticamente todo o dia. Às vezes, até os clientes pegam na menina ao colo. "A minha patroa cuida muitas vezes da menina. Leva-a para casa e dá-lhe de comer. Às seis da tarde, volta a trazê-la para o supermercado e é a minha colega que a leva até oito da noite. Só a vou buscar a essa hora. Aqui, no supermercado, está frio porque a porta é aberta muitas vezes", conta a mãe, que está preocupada com o futuro da filha, pois não considera viável manter a situação atual. "Por acaso, tive sorte, que me deixam trazer a menina para o trabalho. Mas, se não fosse assim, tinha que deixar de trabalhar", acrescentou Mónica.
Aquele não é caso único. Também Olga Martins, 25 anos, anda atrapalhada porque não pode procurar trabalho, pois não tem a quem deixar a filha de sete meses. "Não tenho quem tome conta da minha Naiara. Tive que recusar um curso de formação profissional, mas é muito complicado não trabalhar. O dinheiro também me faz falta", afirmou Olga.
A lista de espera para as amas conta com oito crianças. Há duas famílias que levam os filhos à creche de Miranda do Douro, a mais de 20 quilómetros de Vimioso.
Filas de espera para as amas
Paulo Brás, 39 anos, funcionário da Câmara de Vimioso, vive um problema semelhante por causa da filha de cinco meses. Após a mulher ter esgotado a licença de maternidade, pedem a amigos e familiares que cuidem da bebé. "Inscrevemos a menina no serviço de amas, mas o tempo passou e não houve disponibilidade. Foi preciso encontrar uma solução, tenho uma sobrinha na mesma situação. São familiares e amigos que cuidam das crianças, na minha casa", referiu Paulo Brás.
Mónica Pereira resume o sentimento das famílias: "Isto não faz sentido. Já que há incentivos à natalidade, deviam conseguir condições para as crianças, porque as amas não chegam. Só dar incentivos não chega e não fixa população", referiu Mónica Pereira.
O presidente da Câmara de Vimioso, Jorge Fidalgo, já apresentou uma solução para o problema à Segurança Social, que passa pelo aproveitamento das instalações do jardim o Papagaio, que funcionava numa antiga escola primária, e pela transferência das quatro amas, que trabalham a recibos verdes, para a Santa Casa da Misericórdia de Vimioso (SCMV), sendo atribuídos à instituição o mesmo subsídio por criança, no valor de 250 euros.
"Nós temos o espaço e os recursos humanos, porque as amas estão disponíveis para passarem para SCMV, pois ficam em melhor situação profissional e com contrato de trabalho. Agora, falta a aprovação da Segurança Social", explica o autarca, que pede uma medida "de caráter excecional" para resolver a situação no espaço de um mês. A médio prazo, seria criada uma creche familiar já com acordos com a Segurança Social.