Participantes carregaram 30 quilos de equipamento, mas alguns ainda tiveram forças para arcar com os filhos ao longo dos 573 degraus do Bom Jesus.
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A sexta edição da prova “Escadórios da Humanidade”, organizada pela Associação Família de Elite, no Bom Jesus, em Braga, este sábado, contou com 1562 bombeiros inscritos, batendo o recorde de participações. A prova consiste em subir as escadas do Bom Jesus, no menor tempo possível, com equipamento completo de combate a incêndios, incluindo a botija de oxigénio. O melhor tempo (cinco minutos e trinta segundos) foi de Edilson Gomes, dos Bombeiros Sapadores de Lisboa, entre os homens, e de Sónia Cancela, dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim, nas mulheres. Mas há quem não venha orientado para a vitória, Frederico Loureiro, bombeiro sapador em Viseu, fez 11 minutos com o filho de quatro anos às costas e houve mais “bombeirinhos” a fazer a subida com os pais.
“Ele diverte-se, eu também e é um dia diferente”, refere o sapador viseense, ainda cansado da subida. “É o segundo ano que participo, desta vez foi um bocadinho mais difícil porque ele está a crescer e pesa mais”, reconhece. Além dos 30 quilos do Equipamento Individual de Proteção, Frederico carregou, às cavalitas, os 17 quilos do pequeno Lourenço. Os Sapadores e os Voluntários de Viseu vieram juntos, numa delegação de nove participantes. São apenas mais duas das 260 corporações de nove países (Espanha, França, Polónia, Ucrânia, Roménia, Brasil, Cabo Verde e Venezuela) que estiveram este sábado em Braga para pôr à prova a resistência física, mas sobretudo para conviver.
Luís Filipe, bombeiro aposentado do quadro de honra dos Voluntários de Caldas das Taipas, é um dos que aproveitou esta oportunidade para conviver com antigos companheiros. Em 2021, um diagnóstico de Parkinson e fibromialgia mudou-lhe a vida. “Deixei de poder correr para o quartel quando ouvia a sirene”, recorda emocionado. Este sábado, voltou a envergar a farda para subir o escadório, encerrando a prova debaixo de uma ovação generalizada. Luís venceu os 616 metros de desnível, num tempo a rondar os 15 minutos, sem o pesado equipamento, com a ajuda da bengala e o apoio de milhares de colegas, familiares, amigos e simpatizantes. “Queria provar que a doença não faz de mim um inválido e chamar a atenção para esta profissão que além de ser mal paga não é considerada de risco nem de desgaste rápido”, referiu, ainda a recuperar o fôlego.
Na Madeira não houve tempo para treinar
Quando Luís Filipe chegou ao santuário, os nove “atletas” dos Bombeiros Voluntários de Câmara de Lobos já estavam a descansar há muito tempo. Manuel Pereira fez seis minutos e cinquenta segundos, o suficiente para ficar em 11º lugar. “Com a situação na Madeira, tivemos pouco tempo para treinar. A preparação, este ano, foi no terreno”, conta. “Normalmente, treinamos uma vez por semana, nas veredas, com equipamento completo e botija de aço, pesando mais cinco quilos que o normal”, descreve.
Íris Morais e Edgar Moura são bombeiros voluntários em Borba e fizeram a subida de mão dada com o filho Edgar (junior), de sete anos. “Atendendo à situação, fizemos à volta 19 minutos, não foi um mau tempo”, considera Edgar. Íris é bombeira há 26 anos, Edgar há 22 e o Edgar mais novo, equipado a rigor, também quer ser “bombeiro, polícia ou jogador de futebol”. O pai avisa-o que, “se tiveres jeito é melhor seres futebolista, porque as outras duas não dão dinheiro”.