Metade dos deslocados optaram pela via aérea e os restantes deixaram a ilha de barco. Pode demorar "horas, dias ou meses "até haver uma eventual erupção vulcânica.
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Marisa Freitas, de 14 anos, esperava ontem na gare marítima das Velas, em São Jorge, nos Açores, pelo barco que a levaria à Madalena, no Pico, onde se vai alojar em casa de uma amiga e dos pais da mesma, numa ilha que não está em risco de erupção vulcânica, como a sua. A família ficou para trás, pois não quis sair. Tal como a adolescente, cerca de 1250 habitantes já deixaram São Jorge, onde a atividade sísmica se mantém acima do normal, com sismos periódicos a serem sentidos pela população.
José Manuel Bolieiro, presidente do Governo Regional dos Açores, adiantou ontem à tarde, numa conferência de imprensa, que mais de 1200 pessoas já abandonaram a ilha. "A Atlânticoline [que faz as travessias marítimas] já transportou 653 pessoas e 39 viaturas. E a SATA [companhia de aviação] aponta para 600", contabilizou o governante, sublinhando que o reforço das ligações aéreas e marítimas está previsto manter-se, mas que a situação meteorológica pode obrigar a alterações.
Decisão difícil
Aos poucos, o concelho de Velas - aquele que está mais próximo dos epicentros dos sismos - começa a ficar vazio. Tanto que, ontem, a Escola Básica e Secundária suspendeu a atividade letiva, por mais de metade dos seus 460 alunos ter faltado às aulas. "A decisão de sair não foi fácil. Tive de deixar a família porque eles não quiseram vir", relatou à Lusa Marisa Freitas, que se dizia "preocupada".
Milhares de sismos
Os sismos registados pelo Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) têm sido, segundo o presidente, Rui Marques, "aos milhares". No entanto, o especialista acrescentou que "não foi confirmada a libertação de gases que tivessem a ver com o cheiro a enxofre que algumas pessoas reportaram" e que levou à veiculação de informações erradas.
João Luís Gaspar, reitor da Universidade dos Açores e vulcanólogo, explicou, em declarações à RTP Açores, que o nível de alerta vulcânico V4 (o segundo mais grave) significa que "estão criadas condições para que o magma possa ascender". No entanto, fez questão de tranquilizar a população, frisando que, "para já, estamos a falar de profundidades que se situam entre os sete e os 15 quilómetros".
"Quanto tempo há para avisar, se o magma eventualmente subir dos sete quilómetros para a superfície? Não podemos dizer. Pode ser algo de algumas horas, dias, semanas ou meses", deixou claro o vulcanólogo.
À gravidade da crise sismovulcânica juntam-se, no fim de semana, condições meteorológicas adversas, que já levaram a Proteção Civil a acionar alerta amarelo. Por isso, como as chuvas podem provocar derrocadas, todos os habitantes das fajãs das Velas foram obrigados a deixar as casas, entre as 23.59 horas de ontem e o final do dia de segunda-feira. Além dessa obrigatoriedade de evacuação, o presidente do Governo Regional garantiu que "90 idosos e 10 jovens institucionalizados já foram deslocados para o concelho da Calheta e estão totalmente realojados". Para os restantes habitantes, só é aconselhada prudência.
Para responder à crise, foi feito um reforço de profissionais de saúde no Centro de Saúde da Calheta. Viajou para a ilha uma equipa constituída por quatro médicos, cinco enfermeiros e um psicólogo. A unidade de saúde passa, agora, a estar em funcionamento 24 horas por dia. Ao mesmo tempo, entre material enviado pela Proteção Civil e pela Cruz Vermelha, estão a ser levados para São Jorge, pelo menos, equipamentos para alojar 500 pessoas, mais de 1000 cobertores e centenas de colchões.