O presidente da Câmara de Manteigas diz que a prevenção de enxurradas como as três recentes só pode começar com diretrizes do ICNF, que ainda não foram dadas, e pede rapidez.<br/>
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Em pouco mais de uma semana, três enxurradas alagaram casas, arrastaram automóveis e obstruíram ruas, danificando tudo por onde a água e os detritos dos incêndios iam passando. Duas aconteceram em Sameiro e uma em Vale de Amoreira (no início da semana passada e anteontem), freguesias de Manteigas. Flávio Massano, presidente da Câmara, lamenta que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) ainda não tenha dado às autarquias diretrizes claras sobre como proceder para minimizar o impacto da chuva que cairá ao longo dos próximos meses. E, à semelhança do presidente da Junta de Freguesia de Vale de Amoreira, antecipa que "o inverno vai ser longo".
Sameiro não dormiu, na terça-feira da semana passada, quando uma enxurrada causou o caos no centro da freguesia, destruindo inclusive uma parte da zona ribeirinha. Anteontem, aconteceu de novo. A chuva intensa voltou a causar estragos em Sameiro, mas, acima de tudo, na freguesia de Vale de Amoreira. Bastou meia hora durante a tarde. "As ruas ficaram obstruídas, cinco casas foram atingidas e três carros arrastados. Ainda não conseguimos estimar o prejuízo. A prioridade está a ser a limpeza", conta ao JN Nuno Gonçalves, presidente da Junta de Vale de Amoreira.
"Como se o chão fosse plástico"
Flávio Massano resume o problema: "Com os incêndios de agosto, a malha arbórea das encostas ardeu. Em vez das árvores e dos arbustos, agora é como se o chão tivesse plástico. As cinzas não deixam os solos absorver a água da chuva e ela vai por ali abaixo, transformando pequenos cursos de água e ribeiros em autênticos mares". Depois, todas as linhas culminam, essencialmente, em duas maiores, que chegam ao centro das localidades "com uma violência extrema".
As autarquias dizem-se de mãos atadas. "Por muita vontade que tenhamos, não sabemos por onde começar, nem podemos ir para o terreno sem que o ICNF nos diga quais as prioridades, sob pena de estarmos a fazer ainda pior", adianta Flávio Massano. Até porque "qual é o leito que precisa de intervenção mais rápido?". "Precisamos de saber isso e o relatório que o ICNF partilhou connosco não o diz", lamenta o edil.
É necessário estabilizar solos e desviar cursos de água, entre outros trabalhos de prevenção. E, segundo Flávio Massano, "mesmo isso pode vir a ser inglório". Mas ainda pouco ou nada foi feito. "Tivemos um trabalho exaustivo de prevenção ao longo das últimas duas semanas. Mas não tínhamos hipóteses, nem materiais nem financeiras, para mais. Precisamos que o ICNF e a Agência Portuguesa do Ambiente definam estratégias, rapidamente", apela Nuno Gonçalves.