Vagas de seis a sete metros associadas a ventos de noroeste inundaram, durante a madrugada e tarde de ontem, as ruas do Furadouro e de Esmoriz, em Ovar, transformando-as em autênticos rios e deixando prejuízos em casas, restaurantes e caves.
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Foi na madrugada de ontem quando tudo começou. Diz quem viu que foi um autêntico inferno. "O mar parecia que tinha o diabo dentro", contou Rosa Amélia, uma das moradoras afectadas pelo temporal que desabou no Furadouro. "Levantei-me para ir à casa de banho, desci as escadas e estranhei ver o tapete todo molhado. E olhe o que eu fiz: molhei um dedo, provei e vi que era água salgada. Foi então que percebi que o mar tinha entrado em minha casa", recordou, entre risos de cansaço pelas limpezas de "toda a santa noite".
Às quatro da manhã, já o mar havia destruído parte do muro da esplanada, a sul do esporão central, e a marginal estava transformada num rio de água, areia e pedras arrancadas da calçada. Isto à mesma hora que as vagas entravam de rompante pelo restaurante Concha adentro.
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Imagens vídeo do leitor Reinaldo Teixeira
Avisados pela filha, os donos do restaurante, que estavam de férias, logo trataram de regressar ao Furadouro para fazer contas à vida. "O mar destruiu a esplanada e entrou no restaurante, mas, no meio de tudo, podia ter sido pior", explicou Domingos Botelho com um encolher de ombros e ar de resignação.
O problema não se ficou apenas pela madrugada. À tarde, chegada a preia-mar, o cenário de caos repetiu-se. Com toda a força, as águas do mar inundaram a marginal e correram livremente pela Rua do Comércio e pela Rua dos Mercantéis indo desaguar na parte baixa do Furadouro, na Rua Diogo Cão.
Ali perto, o sistema de bombagem tratava de impedir as inundações de caves e casas, mas, mesmo quando a maré já estava a vazar, acabou por não ser suficiente para travar as águas.
Segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ovar, António Borges, "três ou quatro caves ficaram com metro e meio a dois metros de água e duas ou três casas sofreram pequenas inundações".
Isto enquanto a Norte, em Esmoriz, mais uma vez os moradores da Rua dos Pescadores rezavam para que o mar não lhes entrasse em casa. De nada serviu.
A casa abarracada de António Leite, onde vive com a mulher, um filho e a sogra, não escapou. "O meu irmão e a família não têm condições para lá ficar a dormir esta noite. Vamos ter que nos juntar e dar-lhes guarida", explicou Fernanda Marques.
Na taberna da Rabela, na Rua dos Pescadores, o avanço do mar que galgou o paredão surpreendeu tudo e todos. "Estávamos a jogar cartas quando vimos a água a entrar. Só tivemos tempo de subir para cima dos bancos e das mesas", contou Fernando Zarrais. Já na Rua dos Arrais, onde a água galgava o paredão, moradores assistiam a esforços dos Bombeiros de Esmoriz para bombear a água.
Em Espinho, na zona do bairro piscatório, as vagas chegaram várias vezes à marginal, mas não terão provocado inundações de maior. Na Ilha de Faro, no Algarve, as marés vivas também assustaram com as ondas a bater nas paredes de casas, arrastando muita areia.