Junta, Câmara de Caminha e concessionário apontam perigos e temem próximo inverno. APA admite uma “intervenção de emergência”, antes do fim do verão
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Uma parte da praia de Moledo, em Caminha, está interdita devido aos efeitos da erosão e os geocilindros, enterrados na duna há cerca de uma década para travar o avanço do mar, estão à mostra, partindo o areal praticamente a meio quando a maré enche. A situação é perigosa para os banhistas, tendo sido reforçada a vigilância da Polícia Marítima.
A Junta de Freguesia de Moledo, a Câmara de Caminha e o concessionário queixam-se da inação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que, em maio, garantiu que iria repor a areia antes do arranque da época balnear, caso não sucedesse naturalmente pela dinâmica marítima. E reclamam a tomada de medidas antes do próximo inverno, por temerem que, desta vez, a duna de proteção não resista às investidas do mar, rompa e sejam atingidas habitações e infraestruturas na primeira linha de praia.
O autarca de Moledo, Joaquim Guardão, receia pela segurança dos banhistas, sobretudo dos mais novos, que arriscam “brincar” na zona dos geocilindros, onde se formou “um agueiro” que oferece perigo. A vigilância da Polícia Marítima foi reforçada, as interdições à zona crítica estão sinalizadas e três dos acessos (escadas) do paredão foram vedados. O presidente da Junta está “desapontado” por não ter sido reposta a areia, como prometido pela APA, e lembra que os “técnicos apontam para uma intervenção mais musculada apenas para 2027”.
Ao JN, o presidente da APA, Pimenta Machado, reafirma que a praia de Moledo “é uma prioridade” e que “há uma possibilidade fortíssima” de vir a ser realizada “uma intervenção de emergência para passar o inverno”, sendo que, para depois, estará a ser preparada “uma intervenção mais musculada”.
“É um projeto prioritário para nós”, declara, assegurando que a APA, a Junta e a Câmara têm feito reuniões em busca de uma solução conjunta. “Isto pode ser englobado em duas fases: para o ano, fazer-se a intervenção mais musculada, mas pode fazer-se uma intervenção de emergência, mais soft, para passar o inverno”, explica, ainda, Pimenta Machado, para quem existe a “possibilidade fortíssima” de se executar a intervenção na praia a "dois tempos”.
Prejudica o negócio
A parte norte da praia de Moledo está diminuída e desconfigurada e, na parte sul, o areal engrossou, embora o espaço para as barracas tenha encurtado. “A nossa concessão para pôr barracas fica inutilizada. De 60 barracas, passámos para 25. Não podemos deixar espaço entre elas, porque não temos areia. A praia desapareceu”, descreve Ana Paula Monraia, concessionária dos apoios de praia Mergulho e Vapor, lamentando que a situação esteja “a afetar” o negócio.
A empresária olha para o futuro com muita apreensão. “A minha preocupação já nem é esta época balnear, é o próximo inverno. A seguir à época balnear, vem o inverno, não tomam medidas e o mar galga por aí dentro na boa”, augura. “Eu exploro um apoio de praia, mas há pessoas que vivem aí e a distância da duna à estrada são poucos metros. O mar com força no inverno galga isso tudo”, adverte ainda.
Concessionária em Moledo desde 1989, Ana Paula Monraia nunca viu a praia no estado em que se encontra e receia que a tendência seja o areal “desaparecer”. “Em 2014, puseram os geocilindros e a praia foi-se aguentando, mas, este ano, o mar pegou forte aqui e fez-nos esta baía, que não dá para passar de um lado para o outro. A praia está interdita neste bocado”, lamenta Ana.