Arte urbana homenageia figuras locais como "Quim Sá" em Paredes de Coura.
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Joaquim Sá, de 74 anos, filho de um antigo tamanqueiro de Paredes de Coura, ex-emigrante e maratonista premiado há quatro décadas, é o homem representado num mural que, por estes dias, surpreende quem passa junto ao Albergue de Peregrinos de Rubiães.
"Quim Sá" ou "Quico", como é conhecido, foi escolhido pela Câmara de Paredes de Coura para integrar um projeto de instalações artísticas permanentes nas rotas para Santiago de Compostela, intitulado "Estrelas do Caminho", que visa homenagear "pessoas marcantes" de cada lugar.
A iniciativa, de uma marca espanhola de cerveja, começou no caminho francês e está a espalhar arte ao longo de outros percursos de peregrinação para a cidade do apóstolo.
O mural com cerca de seis metros de altura, que nasceu numa das paredes do Albergue de Rubiães, tem a assinatura da artista, especialista em arte urbana, Lula Goce. E representa um dos nove filhos de um antigo tamanqueiro e sapateiro de Paredes de Coura.
"Comecei a aprender aos seis anos e aos 15 já fazia tamancos e sapatos", conta Joaquim Sá. Não quis, no entanto, dar continuidade ao ofício do pai. Preferiu emigrar para França aos 24 anos, após concluir a tropa. Trabalhava na "Peugeot Cycles" quando participou na primeira maratona da sua vida, "por gosto e pelo desporto".
Desde aí, já correu quatro ultramaratonas (mais de 100 quilómetros), uma em Espanha e três em França, 61 maratonas e 78 meias maratonas. "Ainda quero chegar às 80 meias maratonas", afirma risonho, referindo que conta "mais de 500 troféus" obtidos no país e no estrangeiro.
Só parou para vencer cancro
"Comecei a correr em França, aos 34 anos. Foi pena não começar quando era mais novo. Tinha ganho muito dinheiro", acredita.
Em 40 anos, apenas parou de correr durante "três meses". Para vencer um cancro que se lhe atravessou no caminho. E continuou. Atualmente, treina "uma hora todos os dias" e dá "a volta a Coura uma vez por semana". É atleta do Centro de Atletismo de Arcos de Valdevez.
Guarda os "mais de 20 pares" de ténis que já usou desde que se iniciou nas corridas. "Tenho-os todos. Estão no Museu de Paredes de Coura", conta.
Casado com Fátima, pai de três filhos, adultos, é uma figura popular e acarinhada em Paredes de Coura. Diz-se "feliz com a vida, com os amigos e com a família". E considera o mural de Rubiães um "reconhecimento" do qual se orgulha e que gosta de apreciar, principalmente quando ali passa a correr no seu "treino semanal de 22 quilómetros à volta" da sua amada terra. "Não há terrinha como a da gente. Vim de França aos 38 anos. Enquanto estive lá, tinha sempre saudades de Coura", não esquece.