
Continua em obras um dos lares da Casa do Povo da Abrunheira, que ficou com um armazém destruído
Fernando Fontes / Global Imagens
Associações apontam apoios curtos do Estado e falta de receitas decorrentes da pandemia como razões para os problemas não se terem resolvido.
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Já passaram três anos e meio, mas as memórias da noite de 13 de outubro de 2018, noite em que o furacão Leslie afetou a Região Centro, ainda estão vivas para o presidente da Casa do Povo da Abrunheira, em Montemor-o-Velho, José Carvalho. Quanto mais não seja porque de cada vez que entra no espaço ainda vê obras por fazer, sobretudo no telhado de um dos lares e num antigo armazém, que ficou em ruínas. "Os telhados voaram e ainda há muitas marcas. Não conseguimos reparar tudo e temos ainda vidros danificados dessa noite", recorda. As perdas acabaram por ser só materiais, tendo-se salvaguardado os quase 100 utentes.
Os prejuízos avaliados em 470 mil euros foram colmatados pela associação com um empréstimo de 260 mil e algumas coberturas dos seguros. Do Estado recebeu 25 mil euros. "As candidaturas a apoios estatais eram até 100 mil euros. Seriam até 70% do valor, mas só recebemos 25%", lamenta José Carvalho.
No momento, aponta o presidente, já muito foi feito, mas ainda há muito a fazer. "Tem de ser faseado. Tivemos de colocar um telhado novo, aproveitámos os estragos para fazer algumas remodelações. Para além disso, sensibilizámos empresas da região e tivemos ofertas, como os azulejos, que foram cedidos por uma empresa de Condeixa", agradece.
Em frente às instalações da Casa do Povo funcionavam uns armazéns da instituição, que foram totalmente destruídos pelo Leslie. O piso de cima, todo em madeira, não resistiu. "Não aproveitámos este espaço, só limpámos o entulho", conta José Carvalho. Ao lado da Casa do Povo, uma antiga escola tem servido de escritórios improvisados.
filarmónica Sem telhas
Na Sociedade Filarmónica União Verridense, também no concelho de Montemor-o-Velho, ainda cai água, em resultado de um telhado danificado na noite do furacão. "Remediámos com algumas telhas que nos foram cedidas pela Junta de Freguesia de Verride, mas falta-nos verba para fazer o arranjo total", justifica ao JN a presidente da Sociedade Filarmónica, Juliana Guardado. Ao Estado foi feita uma candidatura de 25 mil euros, dos quais vieram 5000.
A acompanhar esta situação, dois problemas para a Filarmónica que, em junho, celebra 214 anos: o facto de as telhas que dariam para recuperar o telhado já quase não se fabricarem e a ausência de receitas, devido a dois anos de pandemia em que quase não houve atuações. "Os orçamentos que nos fizeram para aquela situação rondam os 20 mil euros e são raras as empresas que fabricam aquele tipo de telha (Marselha). Muitos empreiteiros recusam fazer aquele trabalho porque não lhes compensa. O empreiteiro com quem temos falado agora tem apontado a hipótese de se utilizarem telhas em segunda mão", completa a presidente.
Sobre a falta de receitas, nos últimos dois anos a Filarmónica quase não teve saídas, e as poucas que teve funcionaram em permuta. Segundo Juliana, "a maior fonte de receitas da Sociedade é proveniente das festas religiosas, que também têm estado paradas", mostrando-se expectante em relação ao próximo verão. "Temos vivido com os apoios da Câmara de Montemor-o-Velho, do Instituto Português da Juventude e do INATEL", diz ao JN.
Recordista
Deixou uma fatura de 120 milhões e dezenas sem casa
O furacão Leslie atingiu grande parte da Região Centro, sobretudo o distrito de Coimbra, provocando 27 feridos ligeiros, 61 desalojados e prejuízos de cerca de 120 milhões de euros. O vento, com uma rajada recorde de 176 quilómetros por hora, o valor mais elevado observado em Portugal (na zona da Figueira da Foz), foi o fenómeno que causou maior número de ocorrências, de acordo com a Proteção Civil que contabilizou quase 2500 ocorrências (metade das quais relacionadas com a queda de árvores e cerca de um quinto com a queda de estruturas), mobilizando cerca de oito mil operacionais, apoiados por mais de dois mil meios terrestres.
