<p>Mariazinha, a mulher de Tábua que festejou ontem, terça-feira, 110 anos, atravessou três séculos e canta ainda a "Primavera", perguntando com gestos expressivos como vai a estação do ano associada à mocidade.</p>
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"Encontrei a Primavera, lá em baixo no jardim...", trauteia Maria da Costa Almeida, na casa da aldeia da Candosa, onde vive com a sua filha solteira Irene Costa Santos. Aos 79 anos, Irene desafia a mãe a entoar a cantiga da sua juventude, convicta de que a Primavera "vai e volta sempre" desde que há mundo, enquanto "a mocidade já não volta mais".
Três amigos de Vila Nova de Anços, concelho de Soure, chegaram de manhã à Candosa, distrito de Coimbra, dirigindo-se com facilidade à casa de granito construída em 1880. Augusto Esteves (reformado da TAP), Álvaro Gomes (antigo futebolista da Naval 1º de Maio, da Figueira da Foz) e a mulher Maria da Conceição Gomes viajaram expressamente para Candosa, a fim de felicitar uma das pessoas mais velhas do mundo, avó do seu amigo Alfredo da Costa Santos.
Industrial de panificação no Brasil, Alfredo chegou ontem a Tábua, com o objectivo primeiro de celebrar o 110º aniversário da avó que o criou e de participar, no próximo sábado, numa grande festa com a colaboração da Junta de Freguesia da Candosa e da população local.
Mariazinha labutou décadas na agricultura e foi uma das cozinheiras mais afamadas da freguesia, tendo prestado serviço numa casa abastada da localidade, numa quinta onde o marido, o alfaiate José Macedo dos Santos, assumiu longos anos a responsabilidades de feitor. "O meu pai era um bom alfaiate e morreu em 1972 com 69 anos", declara Irene Santos.
A filha assiste diariamente Mariazinha, que sente dificuldades na audição e com quem partilha o leito nas noites da Beira, gélidas no Inverno e sufocantes no Verão prolongado que já findou no calendário.
"Durmo na mesma cama com a minha mãe", afirma Irene, perante a sobrinha Maria Alzira Bernardo, a neta de Maria Almeida que trabalhou em Lisboa como funcionária dos CTT, estando agora aposentada.
Alfredo Santos, o neto de Mariazinha que mora no Rio de Janeiro, cresceu com a avó na Candosa e partiu para o Rio de Janeiro com apenas 12 anos.
"Lá no Brasil, todas as noites penso na minha avozinha que me criou", revela emocionado o empresário luso-brasileiro.
Mariazinha é mãe de três filhos, tem 11 netos, 18 bisnetos e sete tetranetos.